Ao contrário do que se imagina, a capital federal é uma cidade inovadora. Foi a primeira cidade planejada do Brasil, criada em uma região até então inóspita e menos desenvolvida em termos econômicos se comparada a grandes metrópoles brasileiras. Sua arquitetura moderna, seu projeto em forma de avião, a organização do espaço de acordo com sua finalidade são aspectos inovadores até os dias atuais, passados 63 anos.

A inovação também está em seu povo, formado a partir de brasileiros das mais variadas regiões do país. A grande maioria de trabalhadores que ajudaram a construir a cidade e por lá se estabeleceram.

Diferente de cidades como São Paulo, conhecida por não parar nunca, Brasília tem um ritmo próprio, marcado pela intensa movimentação de pessoas. Este é o ponto que gostaria de destacar.

Sempre defendi a visão de que a inovação é feita por pessoas, para pessoas. Mais que tecnológica, a inovação é cultural. Se Brasília é marcada pelo vai-e-vem de pessoas em gabinetes, sessões, reuniões, discussões, debates, logo, ela é inovadora. Não que a inovação seja algo espontâneo. Refiro-me à mudança que vem da mentalidade e do comportamento de pessoas que vivem e transitam na capital federal.

Ao mesmo tempo que é protagonista, é também coadjuvante, pois embute em seus habitantes visitantes visões de mundo discrepantes e congruentes, moderadas e radicais, conciliadoras e beligerantes. Esta é a beleza de um lugar onde a inovação não está nos dispositivos eletrônicos, mas naqueles que usam esses dispositivos.

Vi um Congresso Nacional trabalhando de forma híbrida, resultado de uma pandemia que mudou nosso jeito de agir. Se naquele período era obrigatório, agora é uma escolha. Assim como também o é em determinadas repartições e empresas privadas, inclusive as mais modernas e tecnológicas do mundo.

Pensei no quanto podemos avançar em termos de inovação se estabelecermos o diálogo e busca do consenso, numa relação de ganha-ganha, como prioridade em nossas ações. Pode parecer um senso comum já desgastado pelo uso banalizado e sem critério, porém mostra-se uma grande verdade.

Em alguns países do mundo a busca por consenso é quase uma obsessão, como no caso dos países nórdicos, como Noruega e Suécia. Decisão muito influenciada pelo passado de guerras, mortes, perdas e invasões de povos estrangeiros. No Brasil isso dificilmente ocorre, mas a falta de consenso não significa falta de entendimento.

A construção de uma sociedade mais inovadora passa, essencialmente, por cidades como Brasília. Não porque são criadas leis na capital federal, mas sim porque a vontade da mudança parte de pessoas que transitam por lá. Quando elas querem, geralmente a coisa acontece ;)

*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP). Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups. @professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)

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