O adágio popular nos ensina há anos: “a união faz a força”. No que diz respeito à inovação e ao empreendedorismo, esse aforismo reserva uma grande verdade. As melhores iniciativas são aqueles executadas por pessoas em prol de um propósito comum. Quanto mais colaborativas elas forem, melhor.

Imagem ilustrativa da imagem A força dos grupos para a inovação no campo
| Foto: Lucas V. de Araujo

Exemplos não faltam. Trouxe o exemplo da Cresol como cooperativa que fornece o insumo básico para a inovação: crédito. Hoje quero ressaltar o trabalho de outro grupo: Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná (Amucafe). Conversei com as cafeicultoras Nira Souza e Juliane Luz.

A literatura acadêmica é pródiga ao ressaltar os inúmeros casos de grupos que obtiveram sucesso ao inovar em conjunto. No meu livro “Inovação e Comunicação no Brasil” são dezenas. A explicação é relativamente simples: ninguém cria uma inovação radical ou disruptiva sozinho. Inovações incrementais até podem ser feitas isoladamente, já que exigem menos esforço, mas mudanças de sistema exigem trabalho coletivo, organização, debate e confronto de ideias e opiniões.

As 120 mulheres da Associação produzem café especial a partir de técnicas desenvolvidas há décadas. O beneficiamento e a comercialização também são práticas bastante difundidas. As poucas máquinas usadas em determinadas etapas são antigas. Então, qual é a inovação e por que ela é radical? A inovação está na formação de grupos sociais que produzem um tipo de café de alto valor agregado, o qual mudou radicalmente o sistema produtivo da cafeicultura no Norte Pioneiro.

Unir pessoas em torno de um objetivo em comum é simples apenas em filmes de baixa qualidade. Por mais que os indivíduos vivam em condições análogas, seus objetivos e perspectivas podem ser dissonantes. No caso da Amucafe, além de superarem essas barreiras, foi preciso que o grupo fosse liderado por mulheres. Elas têm características únicas, como sensibilidade, delicadeza, detalhismo, as quais são imprescindíveis para produzir cafés especiais. A mudança de sistema também vem no bojo da agricultura familiar, já que todas as associadas trabalham em suas pequenas propriedades com seus familiares.

Esses aspectos contrastam com uma visão recorrente atualmente de que inovação no campo é feita apenas por máquinas, homens que operem essas máquinas e fazendas. Quando não são esses perfis, são universitários munidos de computadores modernos que podem mudar o mundo do campo.

O caso da Amucafe mostra que esses arquétipos nem sempre são os mais eficazes. Seja porque as mulheres têm um papel crucial na inovação, seja em decorrência de que máquinas e computadores se tornam inovação quando bem empregados por seres humanos, inclusive em propriedades menores.

O campo e as cidades precisam, indubitavelmente, das máquinas. Contudo, os arranjos entre as pessoas e a interface com agentes do ecossistema necessitam vir antes dos dispositivos eletrônicos.

Serviço

Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná

Telefone/WhatsApp: (43) 9-8809-3245

E-mail: [email protected]

Instagram: @mulheresdocafenppr

*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina