A Colônia Villa Japoneza foi fundada por um grupo de imigrantes japoneses empreendedores em 1920. Ficava nas cercanias de Cambará, no Norte do Paraná, não distante das propriedades de Barbosa Ferraz. Ali os imigrantes haviam trabalhado inicialmente como colonos nas lavouras de café. Um ciclo de quatro a cinco anos entre a vida de colono e a independência com a aquisição de próprias terras.

Duzentos alqueires de terras, ao longo do Rio Alambari, foram divididos entre onze famílias oriundas, na maioria, de uma mesma província, Fukuoka, no sul do Japão.

A Villa Japoneza comemora 95 anos. Apesar de seu pioneirismo e importância, poucos são os que ainda conseguem indicar a sua localização. Nenhuma placa, nenhum marco gravado além da memória fugidia.

Em Cambará, uma avenida parte da rodovia BR-369 ao lado de uma indústria de alimentos. Após passar por um conjunto habitacional e trechos de comércio local, surge um estádio de futebol. Aqui o asfalto acaba. Seguimos por uma estreita estrada de terra. Uma longa reta prossegue durante alguns quilômetros. Logo se avista um platô, antigo Campo de Aviação. Descortina-se a antiga Villa Japoneza. Se esparrama pelos dois lados da estrada de terra. A partir daqui o caminho continua ainda reto, mas some e ressurge na paisagem, acompanhando as ondulações do relevo.

No ano passado foi organizada uma expedição de um dia à Villa Japoneza. Levamos um grupo de imigrantes pioneiros com idades entre 70 e 90 anos. Alguns haviam nascido lá, outros passaram a juventude e ainda outros viveram ali durante décadas. Agora residentes em Londrina, tinham em comum o fato de que raramente ou quase nunca mais retornaram ao local.

Partimos de manhã, da antiga estação ferroviária de Londrina. Pouco se conversou durante a viagem a Cambará. Estariam tentando reconstruir os contornos da antiga colônia ou rememorando momentos vividos?

No entrada de Cambará passamos pelo tradicional Colégio Estadual Silvio Tavares, construído em 1940. Muitas crianças da colônia estudaram ali. A distância de cinco quilômetros entre a colônia e a cidade era vencida a cavalo ou a pé. Toda a produção dos agricultores era vendida na cidade, onde também faziam as compras essenciais. Hoje, ao anoitecer, de alguns pontos da Villa Japoneza pode-se avistar as luzes de Cambará.

Uma vez na Villa Japoneza, as paradas estratégicas da expedição foram sendo definidas pelo burburinho dos pioneiros. Sozinhos ou em grupo, apontavam seus achados resgatados e confrontados do labirinto da memória. O platô, os morros, os pés de manga, um bambuzal, o riacho de águas ainda límpidas, o brejo, o terreno da escola e do campo de esportes, os lotes onde moravam permitiam reconstruir distantes paisagens. A sobreposição de componentes de significado individual ou coletivo permanecem fortemente gravados. Possibilita o reconhecimento do "furusato" ou paisagem da terra natal.

Várias vezes lembrada foi a questão do peculiar dialeto da província de Fukuoka
que era utilizado pelos membros da comunidade da Villa Japoneza. Os moradores eram logo identificados quando, em viagem, conversavam com outras pessoas. Possibilitava criar novos laços.

A paisagem etnográfica, moldada pelos imigrantes, reflete as maneiras distintas de transformar a natureza em cultura, o que significa construir uma paisagem à sua imagem cultural e social. (BERQUE, 1984). Assim, a paisagem imigrante é sobretudo uma paisagem simbólica, e , portanto, carregada de significados, ideais, valores, memórias e sentimentos que unem as pessoas. (MEINIG, 1979).

Este ano comemora-se, simultaneamente, cem anos da imigração japonesa ao Paraná. A expedição à Colônia Villa Japoneza mostra a importância da identificação, reconhecimento e preservação de paisagens históricas. Paisagens da terra natal.

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