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Circulasons traz Patife Band a Londrina para comemorar os 70 anos do Ouro Verde
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 28 de abril de 2023
Circulasons traz Patife Band a Londrina para comemorar os 70 anos do Ouro Verde
Silvio Demetrio/ Especial para a FOLHA
É de lá e só de lá de dentro da cabeça de Paulo Barnabe que a Patife Band veio para desafinar o coro dos impotentes. Nascido em São Paulo, mas por obra do destino feito pé-vermelho londriníssimo assim como seu irmão Arrigo, Paulo trouxe para o pós-punk da década de 80 um composto explosivo,que vem de um amálgama de elementos buscados nas estéticas do decafonismo, serialismo, atonalismo e ritmos assimétricos – isso tudo sem perder um horizonte de diálogo pop com o grande público.
Influenciou toda uma cena musical brasileira entrando para o panteão da chamada Vanguarda Paulistana com seu álbum Corredor Polonês (1986), que é uma referência fundamental para se entender a partir da estética o processo de consolidação da redemocratização do país.
Seus shows sempre foram acontecimentos performáticos que extrapolam o que o vinil, o CD e o mp3 puderam e podem captar. Tudo isso vai estar acontecendo aqui em Londrina no palco do teatro Ouro Verde no próximo dia 6 de maio a partir das 20h30 –o ingresso é gratuito e deve ser retirado na bilheteria do teatro (1) uma hora antes do início do show.
“Sempre é muito bom tocar em Londrina. Estamos de volta agora, mas sempre me lembro de quando gravamos nosso disco ao vivo dentro do Festival Demo Sul que aconteceu na Concha Acústica. Esse disco ao vivo foi lançado em 2003. O show de agora é mais jazzístico, mas tem espaço para as performances que sempre marcaram nossas apresentações”, explica Paulo Barnabe.
A formação da Patife Band para o show dia 6 de maio no Ouro Verde conta com Paulo Barnabe nos vocais e percussão, Paulo Braga no piano, Gustavo Boni no baixo, Elvis Toledo na Bateria e Arthur Sardinha na guitarra.
A apresentação faz parte do calendário do Circulasons 2023, projeto viabilizado pelo Promic e coordenado pela pesquisadora e musicóloga Janete El Haouli e que já trouxe a Londrina artistas da estatura de um Egberto Gismonti ou então o próprio Arrigo Barnabé, irmão de Paulo.
Corredor Polonês, disco de 1986 é um marco na história do rock brasileiro. Com a direção artística do mago Liminha e produzido por Pena Schmidt, o disco soa atemporal até hoje e além. Grandes sobrevoos de improvisos com acordes zappianos e um terroir de momentos nos quais Robert Fripp tocava o terror desconstruindo tempos musicais, tudo em nome de levar seu ouvido de amado ouvinte a soundscapes inauditas.
Eram tempos de Estação Primeira, uma experiência radiofônica que fez história no espectro eletromagnético da capital do Paraná no final dos anos 80. Este que vos escreve se recorda muito bem de ouvir pelas ondas da Estação Primeira a Banda Patife (Paulo Barnabe, assim mesmo, sem acento, e hoje também invertendo o nome original da banda). As músicas que mais tocaram na rádio nessa época foram “O Pregador Maldito”, “Vida de Operário” e a faixa título “Corredor Polonês” .
A primeira vez que me lembro de ter ouvido o som da Banda Patife foi como trilha de uma matéria de Paulo Leminski sobre a arte do grafitti no Jornal de Vanguarda, que passava nos finais e noite na Rede Bandeirantes e que meu pai (e eu) não perdíamos por nada. Só depois quando me tornei pesquisador no campo do jornalismo é que identifiquei a trilha vendouvindo a matéria de arquivo – era o Poema em Linha Reta de Fernando Pessoa que foi musicado e está entre as faixas de “Corredor Polonês”.
O disco inteiro é de uma unidade e coesão difíceis de reconhecer em outras bandas daquele momento. Quando você escuta, por exemplo, Cabeça Dinossauro dos Titãs dá para perceber nitidamente uma dicção instrumental e uma articulação dos vocais cuja referência está no trabalho da Banda Patife.
Comparações sempre são temerárias, ainda mais quando são deslocadas (ou desLOUCAdas?!) no tempo e em relação ao meio de expressão, mas é como se a Banda Patife se colocasse em relação à produção musical brasileira recente assim como Augusto dos Anjos se coloca em relação à literatura de Pindorama. A obra de um livro só que concentra em si a potência sulfúrica de corroer o próprio tempo para permanecer intacta como signo de uma época.
O tempo que se cuide, porque quando ele se aproxima da banda de Paulo Barnabe quem se queima são as horas e os dias. A Banda Patife permanece em toda a sua potência. Pulsando num tempo que lhe é próprio. Imaculada. Não seja um bolha. Junte-se a nós. O show vai ser um barato, até porque ele é gratuito. Viva os 70 anos do Ouro Verde! Viva o Circulasons!
https://www.youtube.com/watch?v=8-o9qJ2h0t0