Tem disco novo que vale a pena conhecer, ouvir e ir atrás da fonte de onde veio. Era assim que a gente fazia quando não existia a rede mundial de computadores, o streaming e os cambaus digitais&coisa&tais. Alguém te iluminava com uma referência desconcertante e você saia que nem louco buscando informação como se fosse um apanhador num campo de centeio. Não adianta, dinossauros como este que vos escreve devem necessariamente confessar: é muito melhor hoje. Se você tiver ímpeto é facilzinho de provocar uma tempestade de informação e os desdobramentos podem te levar até a fonte de fato e de direito.

Foi assim que eu cheguei aos The Runaway Grooms (literalmente, “noivos fujões”). Jam band do Colorado que acabou de lançar “This Road”, seu terceiro LP que já está te esperando nas plataformas de streaming e nas redes sociais como o Instagram e os cambaus digitais&coisa&tais.


O que é uma jam band? (o leitor pergunta). É uma banda que toca rock numa espécie de fusão com o jazz, geralmente abrindo suas músicas com os temas fixos para depois desconstruí-los com longas linhas de improvisos, mudanças de andamento e experimentações de todo tipo. Os Allman Brothers e o Grateful Dead são os pais fundadores do universo das Jam bands. Referências mais contemporâneas são o PHISH e o Blues Traveller.

“This Road” foi lançado mês passado e está tendo um número crescente de acessos em todas as plataformas digitais. A banda está na estrada divulgando seu novo trabalho e se prepara para sua primeira turnê internacional. Conversei pela internet com o baixista da banda, Zach Gilliam (... sim, é uma maravilha isso de ir direto às fontes, aproveite muito aí seo moço).

Na primeira pergunta que fiz a Zach falei que é perceptível uma inspiração nas referências aos Allman Brothers e ao Grateful Dead, mas também que os Runaway Grooms têm uma forte &;brilhante luz própria. Fechei a pergunta com “de onde vem essa luz?”, ao que ele respondeu: “Estamos sempre ouvindo e aprendendo com as bandas que nos inspiram. Essa lista está em

constante evolução e foi construída com base em bandas como Grateful Dead, Allman Brothers Band, The Band, Bob Dylan e muitas outras. Nós nos inspiramos em suas letras, melodias e em toda a vibração subconscientemente. Por fim, temos orgulho de agregar nosso próprio estilo a essa inspiração para nossos shows”.

Quando se fala em referência ao Grateful Dead, uma das coisas que manteve a banda viva ao longo dos últimos 60 anos é a relação que a banda conseguiu criar com seus fãs (conhecidos como “deadheads”). Perguntei a Zach sobre o público nos shows do Runaway Grooms: “O público tende a ser composto por pessoas de todas as idades, desde universitários até seus avós e tudo mais. Adoramos que a música seja uma linguagem universal e não conheça fronteiras. É ótimo ver as pessoas cantando as músicas e ouvir suas histórias sobre o que a música significa para elas. As pessoas geralmente estão dançando e se divertindo”.

Com relação a um estilo de vida vinculado ao som da banda Zach pondera: “Sim e não. Não porque, mais uma vez, a música não conhece fronteiras e tem propósito para muitos que a ouvem. Sim, quanto a um estilo de vida de amizade, amor e experiências comunitárias”.

Perguntei então: “A banda se formou durante a pandemia ou vocês já tocavam juntos antes de lançar seu primeiro álbum em 2020?” “A banda foi formada com seus membros originais, Adam Tobin, Justin Bissett e Zac Cialek, em 2017. O Runaway Grooms cresceu passando a ter 5 integrantes quando eu (o baixista Zach Gilliam) e o tecladista Cody Scott nos juntamos aos outros no final de 2019, pouco antes do primeiro álbum”.

Sobre uma possível apresentação na banda no Brasil Zach falou: “Adoraríamos vir ao Brasil. Meu irmão visitou a Copa do Mundo em 2014 e falou muito bem. Espero que algum dia cheguemos lá. Estamos prestes a embarcar em nosso primeiro show internacional no Panamá, de 11 a 14 de maio. Chama-se Panamainium”.

“This Road”, capa do terceiro trabalho da banda americana The Runaway Grooms
“This Road”, capa do terceiro trabalho da banda americana The Runaway Grooms | Foto: Luke Tobin/ Divulgação

A capa de “This Road” traz a foto de Luke Tobin que mostra uma estrada sinuosa por entre colinas e lembra a capa de um grande clássico da década de 70 – Running On Empty, de Jackson Browne. O que é notável no quinteto do Colorado é sua capacidade de beber na fonte de suas referências mas trazê-las para dialogar com um tempo presente. Não é um mero maneirismo. Os temas das letras também denotam uma atmosfera diferente dos loucos anos das flores nos cabelos de quem ia para São Francisco. É o caso de Heartwork, que fecha o disco. A letra é uma elegia aos que lutam contra a sombra das doenças mentais – um tema urgente e nem um pouco “flower power”. A letra é coletiva, assinada por toda a banda.

“Jenny”, que abre o disco, lembra muito os melhores momentos dos Allman Brothers. A segunda faixa, “Mister Ford” é uma longa e estranha viagem instrumental. As outras duas canções também seguem na atmosfera que a banda promete e entrega aos ouvidos e aos corações do seu público: “Here I Come Again” e a faixa título do disco, “This Road”, ambas chamam a atenção pela presença marcante do som do Hammond do tecladista Cody Scott. E assim com o terceiro disco de uma novíssima superbanda eu fecho minha terceira semana dobrando&desdobrando tudo aqui&acolá.

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