Aquela coisa meio podre, mas que tem gente que gosta: gorGONZOla. Da pandemia herdamos um novíssimo e pseudo-admirável mundo em estado de decomposição. Encrustamos alguma pólvora envelopada em papel de embrulho. Espocado o estouro aqui anunciamos os novos tempos de gorGONZOla expandido. Do silício internáutico da rede mundial de computadores e seus navegantes, agora vamos banhar Londrix também através do éter com suas ondas de rádio. Em brevíssimo tempo gorGONZOla renasce clonado em experiência radiofônica que só a liberdade plena e compulsória da UEL FM pode proporcionar.

Da confluência entre este nosso espaço de Dobra na Folha de Londrina com a zona autônoma temporária criada na web e que pode ser acessada no endereço digital Gorgonzola Rocks , agora ampliamos nossos trampolins de desterritorialização para o número 107.9 do dial e na URL Rádio UEL - gorGONZOla ou a aventura de viver a cultura por coragem e teimosia.

A ideia foi insuflada pelas vozes de Gutemberg Medeiros e da escritora Hilda Hilst. Ao passar pela frente da porta da rádio no campus da UEL eis que os espectros dos dois me escarneceram em coro atonal, apontando para a porta: “Já!!!” eles diziam com a gravidade de quem sabe o quanto tudo é frágil e volátil. Obedeci só para quebrar o protocolo. “Nem mestres e nem patrões” reverberei. Entrei sem ideia do que dizer e no caminho fui dizendo, porque é a caminho que se dizem as coisas.

Então este manifesto saúda e evoca a Rádio Alice, a Rádio Liberdade Vigiada e todos os espíritos livres de todos os livros que se escreveram e que hão de ainda serem escritos porque o escarlate das terras da pequena Londres sempre foi generoso para quem nelas semeasse a beleza e a cultura. Todos os espetáculos que foram montados e os que serão, os concertos, as peças, monólogos exposições, mostras e trocas do espírito desdobradas em todas as suas possíveis formas de encontros felizes.

gorGONZOla é uma mistura de TAZ (o conceito de Zona Autônoma Temporária de Hakin Bey) com o GONZO (estética jornalística-literária criada por Hunter Thompson). De cada um segundo o seu próprio desejo é a única regra que se auto anula na medida da satisfação e gozo de quem decide se expressar quando quiser e, sobretudo, SE quiser. Queremos com isso o querer desregrado fluindo solto e livre como quiser.

Ninguém é obrigado a nada. É dessa obrigação que ninguém deve nadar em águas paradas. Fluímos é pela correnteza livre em busca dos verdes vales do fim do mundo. Com nossos pés vermelhos e com dois dedões. Pés de gonzo. Porque gonzo também significa dobradiça. Dobra. Vem de “Gonzaga”, que na Idade Média significava “louco”. gorGONZOla é uma Navilouca cujo destino é vencer os mares da calmaria e do tédio mortal dos anoiteceres dos domingos.

Ainda não temos nem dia e nem horário, mas vai rolar na UEL Fm. Convocamos todos a embarcarem em nossa stultifera navis. Divulgaremos por todos os meios necessários a hora e o local do embarque. Quem quiser ir que vá e que volte, para depois continuar indo e voltando. Zigue e zague em seu pleno direito de ir e vir. Prá lá e pra cá como num drible de Garrincha. Do site para a rádio e do dial para o navegador. Um salto de trapézio sem as redes. Aqui escrevendo e publicando porque assim esse que vos escreve se obriga a realizar. E realizar é o que nos cabe enquanto seo lobo não vem. Que a névoa púrpura que agasalha e aquece nossos corações nunca nos permita deixar de fazer algo que não rime com o brilho nos olhos. Estamos de volta e já não somos mais os mesmos. Nunca. Somos sempre outros. Tudo vibra – tudo está em fluxo (em grego arcaico porque sempre atual, Panta Rhei). gorGONZOla agora também vai vibrar pelas ondas do rádio.

* Silvio Demétrio é professor do curso de jornalismo da UEL.

* Escreve às sextas-feiras na Folha de Londrina 2.