Era praxe o saudoso e querido Agostinho Miguel Garrote, que foi embora cedo demais, me ligar para discutir assuntos do Londrina. Fazia isso espontaneamente, apaixonado que era pela causa. Certa vez, no Paranaense de 2005, ele presidente do clube, quis saber o que eu estava achando do início da campanha do time, que vencera os três primeiros jogos. Tempos das folclóricas "briiitz" do técnico Itamar Bernardes (por onde anda?) no VGD.

Imagem ilustrativa da imagem Começou bem. Mal começou
| Foto: Lucas Adriano/Londrina Esporte Clube

Se não me engano, respondi que era uma boa arrancada, mas que ainda tinha muita coisa pela frente. Frasista de primeira e um trocadilhista como poucos que conheci, Agostinho então arrematou: "Começamos bem. Mal começamos".

Lembrei dessa máxima no último domingo, após o Londrina fazer o beabá contra o ABC. Foi uma estreia acima das expectativas - pelo menos, das minhas expectativas. Com um time em reconstrução depois dos fiascos no Paranaense e na Copa do Brasil que lhe impuseram um recesso forçado de 40 dias sem jogos oficiais, tudo o que eu não esperava no Café era ver um Londrina propositivo (para usar um termo da moda) e organizado diante de um adversário em plena atividade.

A vitória premiou o bom primeiro tempo, em que as jogadas de velocidade pelas pontas fluíram, ora com Paulinho Moccelin pela direita, ora com Vinícius Barata pela esquerda. O time criou e perdeu boas chances. No segundo tempo, diminuiu o ritmo, muito pelo cansaço, e o ABC continuou preso, surpreendentemente inofensivo (talvez pelo acúmulo de jogos importantes pela Copa do Nordeste, na qual caiu na semifinal, e Copa do Brasil, quando enfrentou o Grêmio na última quinta-feira, pela terceira fase).

Alexandre Gallo já tinha falado da importância de o Londrina começar bem esta Série B, justamente porque no returno os times se reforçam e se ajustam.

Daí que a estreia, da forma como aconteceu, foi um bom primeiro passo. Só que vêm mais 37 jogos pela frente, tá todo mundo tateando o caminho ainda. Fosse bom, conselho não se dava, mas sugiro ao torcedor alviceleste que não se iluda com a promessa do gestor de subir o time - não é assim todo ano? - e se afie no jogo a jogo, rodada a rodada, como aliás pregava o Adilson Batista ano passado.

Diferente da edição 2022, em que o acesso de Cruzeiro, Bahia e Vasco era praticamente certo desde o início - apesar do sufoco por que tricolores e sobretudo os vascaínos passaram para chegar lá -, a competição deste ano não permite apontar favoritos indiscutíveis. Eu pelo menos não arrisco palpitar. Então, como já cantava a Mocidade Independente de Padre Miguel, "sonhar não custa nada", mas sempre com os pés fincados na realidade.

Ainda sobre a primeira rodada, chamou atenção o fato de que dois dos quatro times com os treinadores mais longevos perderam: o ABC, aqui, e a Ponte Preta, que levou um vareio do Vitória, em Salvador; Mirassol e Criciúma, do Tencati, venceram, como se esperava. E entre os "imediatistas", cujos técnicos estrearam junto com o time, além do Londrina outro que se deu bem foi o Guarani, que goleou o Avaí. O Juventude, terceiro da lista, caiu em casa para o Botafogo-SP do Adilson Batista, no resultado mais surpreendente.

E por falar em Criciúma e Vitória, os dois estádios lotados. No Café, 1.600 testemunhas. É o preço dos ingressos ou a falta de apreço pelo clube? Cartas para a redação. Boa semana.