É preciso falar sobre isso. Fosse há 10, 15, 20 anos, a condenação do técnico Cuca por violência sexual na Suíça, em caso ocorrido em 1987, quando ele era jogador, talvez não teria - como não teve - toda essa reação provocada por sua contratação pelo Corinthians.

Acontece que o mundo, felizmente, mudou. O que antes poderia ser visto apenas como uma conduta "nociva" ou "inadequada", algo de menor consequência, hoje tem agravantes para além do crime. Quantas mulheres poderiam ter se encorajado a denunciar parceiros agressivos se a Lei Maria da Penha, instituída somente no início do século 21, tivesse surgido antes? Sem falar na lei de feminicídio, sancionada no Brasil apenas em 2015.

Igualdade de gênero, respeito às diferenças e individualidades, empoderamento feminino e outros tantos conceitos da chamada pós-modernidade que as mentes envelhecidas, inclusive de gente jovem, podem considerar "mimimi", vieram para mostrar que a sociedade evolui, graças a Deus. Não é preciso ter mãe, filha, irmã ou sobrinha para repudiar violência de gênero, misoginia, machismo. Basta ser humano.

Não é o caso aqui de defender o cancelamento definitivo de Cuca, a quem considero um dos melhores treinadores do país em atividade, ou de Danieis Alves ou de Robinhos, mas esperar que sejam responsabilizados pelos crimes que tenham cometido. Na situação específica do treinador curitibano, que eclodiu porque o Corinthians é um dos poucos grandes clubes do país que têm movimento feminino interno muito forte e ativo - "respeita as minas!" -, toda a repercussão serviu no mínimo para que ele fosse obrigado a se pronunciar publicamente. Há quem veja nisso tudo apenas uma onda lacradora. A esses, o consolo de que a vida ensina.

GOLEADA?

Esses dias surgiu uma "polêmica" aqui na redação: 3 a 0 é goleada? Tem quem ache que sim, tem quem ache que não. Eu sou do time que define como goleada placar igual ou superior a três gols. Então, assim como o Londrina goleou a Chapecoense por 3 a 0 na Série B do ano passado, lá em Chapecó, foi goleado na mesma moeda no jogo do último domingo. Só que neste caso o placar foi exagerado. Além de perder algumas chances no primeiro tempo, o time do Gallo errou muito no sistema defensivo, permitindo que a Chapecoense, que não é nada disso, chutasse à vontade. Mas dois dos três gols saíram em falhas prosaicas da defesa alviceleste. Assim como não havia por que se empolgar com a vitória da estreia, não há também que se descabelar com a derrota em Santa Catarina. Como escrevi semana passada, é apenas o começo. Ou alguém acha que o Ceará, hoje na lanterna com duas derrotas e que demitiu ontem seu treinador, vai ficar por lá? Nesse Londrina em formação, tenho dúvidas em relação ao 9 ideal (ainda não o temos) e uma quase certeza: o Diego Jardel cabe no time.

ERRATA

Cometi um erro na reportagem sobre os técnicos da Série B, publicada dias antes do início da competição. Disse que o nosso Cláudio Tencati estava no Criciúma desde maio do ano passado, o que já o tornava (de novo) um dos dos treinadores mais longevos na edição deste ano. Não. Tencati assumiu o Tigre em outubro de 2021, na reta final da Série C, e conquistou o acesso encaminhado por seu antecessor, Paulo Baier. Então, ele já é o técnico há mais tempo no cargo. Surpresa? Nenhuma. Como também não surpreende o fato de o Criciúma ser um dos líderes desta Série B. Boa semana.