Não tenho lugar de fala, posto que branco privilegiado, e peço licença ao negro que me lê. Não sou eu quem o diz: "Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga, do africano. Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo o que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra."

Esse trecho inicia um dos capítulos de Casa-grande e senzala (51ª edição, Global Editora), que a despeito das controvérsias em torno da trajetória de seu autor, Gilberto Freyre, é tido como um dos principais tratados antropológicos já escritos no país sobre a formação do povo brasileiro.

Mais da metade da nossa população é formada por pretos e pardos, segundo o IBGE. E ainda assim, por mais que não tenhamos inventado o racismo, o praticamos. Ou não? Vinícius Júnior, astro do Real Madrid, é o alvo da vez nos estádios espanhois, como também já foi Daniel Alves, ainda no Barcelona, para quem arremessaram uma banana no campo de jogo. É legítima a indignação contra a canalha europeia, mas não ignoremos que aqui episódios semelhantes ocorrem há tempos em nossos estádios também.

No Londrina mesmo, como esquecer os insultos ao Celsinho em Brusque?- cidade cujo time graças a Deus caiu para a Série C, mas não por isso, já que à época o STJD não teve a decência de punir o clube com a perda de pontos. No ano passado, um outro jogador do Tubarão denunciou um torcedor do Athletico por gritos racistas durante jogo na Arena da Baixada.

Há dez anos, o goleiro Aranha, então no Santos, liderou um movimento antirracista após ser xingado por marginais travestidos de torcedores do Grêmio. É tão corriqueiro que a gente parece que esquece. O lado positivo nessa história abjeta de que Vini Jr. é a vítima é que justamente por sua posição, pelo clube em que joga e pelo campeonato que disputa a mobilização de autoridades foi imediata. Mesmo que tardia. Não acredito que novos episódios deixem de ocorrer ou pelo menos diminuam enquanto não houver punições exemplares aos criminosos e aos clubes envolvidos. Mas resolve? Como bem disse o presidente da Federação Espanhola, a questão está na educação - ou melhor, na falta dela. Na Espanha, no Brasil, em Brusque, onde enfim houver um só fascista que pregue a hegemonia da raça essas manifestações criminosas vão continuar. Para tirar o racismo dos estádios é preciso primeiro tirá-lo da sociedade. Acredita quem quiser.

O PRINCIPAL TESTE

Hoje tem Londrina. Depois das duas vitórias seguidas, há uma natural expectativa para saber o que esse time do Edson Vieira vai fazer diante de um Ceará em plena recuperação (como, aliás, já esperávamos). É o principal teste do interino, que podia usar nas coletivas de imprensa a mesma destreza com que tem dirigido o time em campo. O Ceará tem elenco e orçamento para buscar o acesso. Veremos se o Tubarão tem pelo menos o primeiro requisito, já que o segundo sabemos que não.

O Moringão, as meninas e o Rei

Dei uma passada no Moringão na última segunda-feira à noite para matar dois coelhos com uma só cajadada: ver as meninas do Londrina na disputa da Taça Brasil de futsal e checar de perto como ficou o ginásio renovado. O jogo, vi somente o princípio do segundo tempo. Mais uma vitória das guerreiras. Boa sorte a elas. Sobre as reformas, tudo muito bem, tudo muito bom, mas o que se espera é que as ditas melhorias perdurem, no mínimo para compensar os impressionantes quatro anos de obras. O nosso maior ginásio tem que estar apto para receber bem tanto as competições esportivas - embora elas tenham desgraçadamente rareado ao longo dos anos na cidade - quanto os eventos de entretenimento. Dia 2 de junho o Rei vem aí. Tomara que a estrutura do palco e dos assentos privilegiados não comprometa o piso da nova quadra, e a acústica esteja à altura do espetáculo. Não são pequenos detalhes. Boa semana