É triste quando um grande cai. A torcida rival comemora, faz piada, mas o desespero, as lágrimas na arquibancada, principalmente o sofrimento das crianças, mexem com as pessoas que consideram o futebol a coisa mais importante, dentre as menos importantes (frase do italiano Arrigo Sacchi).

Foi assim quando Palmeiras e Corinthians caíram. Apesar da grande rivalidade no Norte do Paraná, não consigo ver graça na desgraça do outro. Penso na dor de cabeça do primo, do tio, do amigo e colega de trabalho na ressaca da segunda-feira após o rebaixamento. Não desejo isso para ninguém, assim como não desejo quase 20 anos de fila sem ver um único título do seu time de coração.

Hoje, sou um torcedor racional. Não sofro. Infelizmente, o futebol tem um lado sujo, de corrupção, ganância e muita ostentação. Mas, tenho saudades da época em que ia dormir em lágrimas após perder um clássico e de socar o sofá e sair atirando objetos na sala de tv, quando perdia completamente a cabeça durante o jogo. Às vezes, a realidade era muito pesada. Desligava a televisão e esperava o resultado. Diante de um telão e centenas de pessoas que assistiam a decisão por pênaltis entre Brasil e Holanda, em 1998, eu desapareci. Fiquei sabendo da classificação para o final pelos gritos da torcida.

Em “Febre de Bola”, o autor inglês Nick Hornby escreve sobre sua relação com o Arsenal. Na parte do livro em que recorda da sua infância, ele resume tudo em uma frase maravilhosa: “eu odiava amar o Arsenal”. Eu entendo perfeitamente. Quando tinha 10 anos, meu pai foi transferido para Belo Horizonte. A fase do meu time de coração era tão ruim, que resolvi aproveitar a oportunidade para mudar de time em BH. Adotei o Cruzeiro em Minas. Claro que isso não deu certo. Logo, o coração falou mais alto.

Mas, foi um período inesquecível, pois eu acompanhei de perto o nascimento de Ronaldo Fenômeno, que ainda era Ronaldinho com a camisa azul da Raposa. Até raspei o cabelo.

O mais triste do rebaixamento do Cruzeiro é saber que o sofrimento do cruzeirense é culpa da administração do clube e de uma diretoria alvo de diversas denúncias. Mas, como outros grandes clubes que voltaram com força para a elite do futebol nacional, acredito que o rebaixamento pode ser um reinício para o Cruzeiro, principalmente com uma nova direção, assim como aconteceu com o Corinthians e com o próprio Londrina, que caiu para a Divisão de Acesso do Paranaense antes da gestão SM, que recolocou o clube em seu lugar merecido. Tenho certeza que o Cruzeiro - tão combatido, jamais vencido - logo estará de volta! Boa semana.