Nasci Diego durante uma Copa do Mundo. A de 1978, na Argentina. E o futebol nasceu pra mim oito anos depois, também numa Copa do Mundo. A de 1986, no México. A genialidade do xará argentino me assombrou. E de certa forma compensou a primeira dor de uma eliminação brasileira em Mundiais.

Diego Armando Maradona me deu o encanto pelo futebol. Claro que vieram outros gênios depois dele, mas o que vi o xará argentino fazer, não só naquela Copa, que ele ganhou sozinho, mas também no Napoli, o único time europeu que me comoveu um dia, bastou. Com Maradona, vi tudo. Vi o suficiente. Daí que as inevitáveis discussões em torno do “quem foi melhor?” entre amigos sempre me soou desnecessária. Nunca tive dúvidas de quem foi o maior que eu vi.

Por conta daquela Copa do México que o xará argentino ganhou sozinho, Diego virou moda. E eu tinha um orgulho danado de ser o único Diego na turma do colégio, entre os amigos do bairro, no time do clube. Gostava até de pensar que meu nome havia sido uma homenagem de meus pais àquele baixinho canhoto na bola e na vida – uma bobagem evidente, já que em junho de 78 o grande jogador da Argentina na Copa era outro, e minha mãe nunca ligou pra futebol, tampouco simpatizava com Dieguito.

Esses dias, por conta dos 60 anos de Maradona, revi os melhores lances, os maiores gols, do xará argentino. Alguém escreveu que El Diez foi o mais humano dos imortais, por sua trajetória errante fora de campo. O viciado, o contestador, o militante. O Maradona pecador como cada um de nós.

O jornalista argentino Emiliano Sotomayor, do Olé, o principal jornal esportivo deles, começou assim a matéria sobre a morte do ídolo: “E um dia aconteceu. O que o mundo do futebol rezava para que não sucedesse nunca, finalmente aconteceu. Nos foi Diego (...). Nos foi Diego, e levou com ele o futebol. Porque nada será igual. Nunca mais. A morte do Pelusa marca um antes e um depois. E o golpe retumba em todas as latitudes.”

E que golpe. Gênio bandido, Maradona imortalizou-se já naquela Copa que ele ganhou sozinho. Me vem à memória o texto (lindo) lido na Globo pelo já saudoso Fernando Vanucci no encerramento da transmissão daquele Mundial: "Amar a bola. Amar o drible. Amar o chute. Amar o gol. A Maradona”. Gente como ele não morre porque nem gente é.