Arrisco-me a dizer que a preguiça de pensar é um dos principais motivos que explicam por que pessoas de alto potencial nem sempre alcançam sucesso em suas carreiras. E o problema não é novo, pois no século XVII o padre Antônio Vieira alertava: “O peixe apodrece pela cabeça”.

É inegável que os avanços tecnológicos que tanto facilitam a nossa vida também desestimulam o exercício do pensamento. Já não precisamos de esforço cognitivo algum para fazer uma série de coisas que, anos atrás, exigiam trabalho cerebral.

Quer um exemplo? Para encontrar qualquer endereço em uma cidade grande, tínhamos de abrir um mapa enorme, localizar o alvo, escolher o melhor itinerário e depois ainda tomar uma série de cuidados para não nos perdermos no meio do caminho. Hoje simplesmente ligamos o Waze e ele faz todo esse trabalho sozinho. A única coisa que cabe a nós é seguir os comandos dados pelo aplicativo.

Ainda em 2011, o jornalista Nicholas Carr publicou o best-seller A geração superficial que trazia a seguinte máxima: “Estamos ficando mais burros, e a culpa é da internet”. Mal sabia ele que Instagram, TikTok e companhia fariam um estrago ainda maior anos depois ao entregarem entretenimento viciante a milhões de pessoas paralisadas em telas verticais de smartphones.

É claro que a conta já está vindo e seus impactos não se restringem à carreira dessas pessoas, pois a falta de pensamento crítico às impede de tomar boas decisões em qualquer campo da vida. Precisamos desenvolver competências cerebrais (como criatividade e capacidade de abstração, dentre outras) para vivermos melhor e não apenas alcançar sucesso no trabalho.

Por isso, encoraje seus filhos a desenvolver habilidades cognitivas desde cedo por meio de atividades como quebra-cabeças, a participação em debates que incitem neles o poder de argumentação e, principalmente, a leitura. É difícil uma pessoa estruturar qualquer pensamento elaborado quando não costuma ler.

E outra dica importante: estimule a sua imaginação. Quanto mais você projeta ideias não convencionais sobre como resolver seus problemas, mais oportunidades têm de se tornar um pensador. O inverso também é verdadeiro: se você não pensa, o seu cérebro atrofia.

Além disso, aceite o esgotamento mental como parte do processo. Quem coloca a cabeça pra funcionar costuma chegar ao final do dia exausto e esse é o preço que temos a pagar. Pensar cansa sim.

Em contrapartida, o esforço cognitivo é que geralmente possibilita um trabalho de alto nível. “Gente, vamos estressar um pouco mais o assunto que a resposta que procuramos vai surgir cedo ou tarde”, é o mantra que me acompanha.

O “Eureka!” de Arquimedes de Siracusa não foi obra do acaso e sim o fruto histórico de quem, antes de qualquer coisa, colocou a cachola pra funcionar. Que façamos o mesmo!

* Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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