Quem lê meus artigos nesta FOLHA, deve ter notado que nos últimos meses insisti sobre o descaso com que são tratados alguns equipamentos de cultura na cidade. No artigo publicado em 22 de julho - "Teatro Municipal de Londrina: retomada requer vontade política" - destaquei que a construção foi planejada, há 16 anos, dentro de critérios arquitetônicos que demandaram um concurso nacional realizado, justamente, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.

Em outro artigo - "Espaços culturais de Londrina estão abandonados. Por que será?" - publicado em 18 de novembro - volto a questionar a classe política, que tem a chave dos cofres, sobre a situação do Museu de Arte de Londrina e do Teatro Zaqueu de Melo.

Muitas vezes, flagro ataques desviados daqueles que seriam seus verdadeiros alvos na cobrança da construções ou reformas de espaços, alguns deles tombados, que não são apenas "questões domésticas" a serem resolvidas com as queixas ou com a assinatura de um secretário de qualquer gestão. Quando uma Secretaria cumpre o protocolo de requerer o que falta para o funcionamento dos espaços sob sua administração, cabe também a outras instâncias prover os recursos - geralmente altos - para devolver à população o que lhe pertence por direito, tendo em vista os impostos que alimentam os cofres públicos.

Sobre as situações, para as quais venho acendendo alertas, quero completar hoje uma trilogia de artigos. Quero chamar a atenção para um desastre que ocorreu esta semana, quando o líder da bancada do Paraná na Câmara pediu desculpas por "esquecer" de protocolar uma emenda para a continuidade das obras do Teatro Municipal. Um pedido de desculpas não basta. É inaceitável um representante do estado argumentar "esquecimento" tendo em vista um relapso que vai custar a Londrina R$ 50 milhões, sem falar dos sonhos da comunidade cultural que se tornaram um pesadelo, com aquele esqueleto de concreto abandonado numa área nobre da cidade.

É preciso instigar soluções para ver o que é possível fazer para Londrina não ficar chupando o dedo. A cidade não pode simplesmente esperar até 2025 para obter recursos, neste ano a obra inacabada estará completando 18 anos, que serão a "maioridade de um descaso". Um pedido de desculpas é pouco para Londrina e o Norte do Paraná que tanta riqueza dão ao País. Haveria alguma medida capaz de salvar o Teatro Municipal do "esquecimento" que beira à uma espécie de amnésia?

No mesmo artigo, em 18 de novembro, quase numa premonição da "amnésia no orçamento", questionei sobre as obras paralisadas do Museu de Arte de Londrina: "o que significam cerca de R$ 2 milhões para a reforma completa do Museu, para uma classe política - incluam-se aí nossos nobres deputados - que lida com milhões reservados a campanhas eleitorais? Será que um prédio de Artigas vale menos que os comícios animados, os palanques, os 'santinhos' despejados nas ruas ou a decoração de Natal? A quem pedir uma emenda no orçamento que valha nosso orgulho e nossa vergonha de pertencer a uma cidade tão rica em possibilidades e tão pobre para algumas realizações?"

Cabe informar que, desta vez, três deputados que representam Londrina e o Norte do Paraná enviaram a emenda a ser protocolada para obter recursos para o Teatro Municipal, sem contar com o "esquecimento" do colega do sudoeste do estado. Aí lembro-me de outro trecho do mesmo artigo: "Definitivamente, a burocracia é inimiga da arte, ou a Cultura não estaria num jogo de empurra-empurra, com o pires na mão."

É preciso cumprir processos burocráticos, até em nome da transparência, mas não a ponto das realizações se tornarem suas reféns. Fica a questão: o que ainda é possível fazer quando se perdem protocolos e prazos? Há outras fontes de recursos que podem salvar Londrina do pesadelo de ver seu Teatro Municipal abandonado? A cultura não é apenas um processo "doméstico." É um processo estadual e nacional que merece respeito.

* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.