O título é um elemento importante do texto. Como ideia pode surgir antes, empurrando o desenvolvimento de um tema, ou pode surgir depois, como um fecho daquilo que expusemos. Pode ser tão criativo a ponto de atrair a leitura ou tão hermético a ponto do leitor não ter nenhum interesse pelo texto. Pode ser aperfeiçoado, de modo que o mudamos duas ou três vezes até encontrar aquilo que consideramos ideal, transformando-se em" isca." Pode ser poético atraindo aqueles que sabem que No Meio do Caminho só pode ser coisa de Drummond. Pode ser lírico quando sabemos que Com Licença Poética é poema de Adélia Prado citando Drummond.

Imagem ilustrativa da imagem Título
| Foto: Marco Jacobsen

Um título abre espaço para o que vem adiante ou ao que veio atrás, como uma referência cultural. Pode ser O Dia em Que a Terra Parou, lembrando Raul Seixas em tempo de pandemia. Ou melancólico como Por Quem os Sinos Dobram, remetendo a um drama contemporâneo como Ernest Hemingway fez ao dar título a um de seus livros mais famosos sobre a Guerra Civil Espanhola.

O título de uma música pode inspirar coisas malucas como Panis et Circenses, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, gravada magistralmente pelos Mutantes, citando a expressão latina "panem et circenses" que quer dizer literalmente "pão e circos". Pode ser Roda Viva para uma música de Chico Buarque de Holanda criada num ritmo crescente, que nos captura para dentro de um giro, e ainda nomeia um dos programas de entrevistas mais conhecidos da TV Cultura que os críticos ou mal humorados, em dias ruins, chamam de Rueda Muerta quando o entrevistado ou os entrevistadores não agradam.

Título pode ainda conferir status de nobreza, coisa tão antiga que só existe nos contos de fadas ou em países anacrônicos que ainda vivem sob a monarquia. Príncipes e princesas, duques e condessas são títulos de um mundo separado em castas, mas ainda impressionam a ponto de revistas de fofocas contarem tudo sobre essas "celebridades".

A imprensa é objeto de estudo por conta dos títulos ou de todo conteúdo chamado "sensacionalista" , aquele que extrai detalhes da vida das pessoas e os usa como atrativos mercadológicos. O objetivo é provocar emoção, explorar o extraordinário, criar fantasias que levem o público a escolher determinada notícia entre tantas.

Tenho dúvidas se a simples palavra "título" vai atrair leitores para este texto, mas a escolhi para testar a curiosidade sobre título tão sintético e tão pequeno.

Mas em tempos de eleições , aqui e acolá, não custa lembrar que em breve vamos usar um de nossos títulos mais valiosos, o de eleitor, consagrando o voto como uma prática da democracia. Por isso, aproveitem este texto para localizar seus títulos que, às vezes, ficam guardados no fundo da gaveta por quatro anos até que se tornem novamente o passe para escolher quem irá governar a cidade, o estado ou o País.

O título de eleitor não é documento de nenhuma nobreza, nem pode servir de "isca" como os títulos da imprensa. Ao contrário, confere ao público em geral um direito conquistado e inalienável. Ele não é um instrumento para tornar um texto mais atraente nem uma pessoa mais importante, é um instrumento para tornar a vida dos cidadãos mais justa e mais digna. Usem bem seu título no próximo dia 15.