O esqueleto de ferro e concreto do Teatro Municipal de Londrina, no Marco Zero, contrasta com uma cidade que tem corpo e alma dedicados à cultura. Hoje, nenhum cidadão seria tolo para menosprezar um segmento que ajudou a colocar Londrina no mapa nacional. Aqui, há mais de 50 anos, o Festival Internacional de Londrina - o FILO - resiste como o festival mais longevo da América Latina. Da mesma forma, o Festival Internacional de Música resiste há 43 anos, dentre outras centenas de projetos culturais efervescentes, o que não é pouca coisa.

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Ultimamente, a construção inacabada do Teatro Municipal voltou ao noticiário. Entrevista publicada na FOLHA em 28 de junho, trouxe de volta o sonho e a decepção do arquiteto Thiago Nieves, de São Paulo que, em 2007, foi o vencedor de um concurso promovido pela Secretaria de Cultura para escolher o projeto do Teatro Municipal.

Passados cerca de dezesseis anos desde o sonho que nunca se tornou realidade, Londrina vive à sombra do pesadelo de uma obra querida e inacabada. A Secretaria Municipal de Gestão Pública e a de Cultura já consultaram o arquiteto responsável pelo projeto sobre adequações necessárias para a conclusão da obra em etapas, levando em conta a atualização de tecnologias e materiais agora disponíveis no mercado. O custo da readequação está em negociação entre o arquiteto e o poder público.

A recente edição do FILO lotou o Teatro Ouro Verde por dias seguidos, o velho guerreiro das artes, a Fênix renascida das cinzas após um incêndio brutal, teve seus quase 800 lugares ocupados em quase todos os espetáculos , o que significa que num aumento previsível da população, os 1.120 lugares projetados para o Teatro Municipal inconcluso podem representar até pouco para um espaço que deverá abrigar a vida cultural da cidade, no mínimo, pelos próximos 50 anos.

Na semana passada, o Rotary Club Norte de Londrina propôs uma alteração para transformar a estrutura inacabada do Teatro Municipal numa Escola de Belas Artes dedicada a várias linguagens, como teatro, música, dança, escultura e pintura. Ocorre que, desde a sua concepção, o projeto do Teatro Municipal de Londrina prevê a construção de salas multiuso, voltadas não só a todas as artes, mas a oficinas gratuitas que sejam capazes de produzir mais artistas e mais cultura para a cidade. O problema da construção do Teatro Municipal não é redimensionar sua vocação, mas a falta de vontade política que passa pela iniciativa dos representantes que podem atuar não só no âmbito municipal, mas estadual e federal.

Em 2007, juntamente com o representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PR), Jeferson Dantas Navolar, e a Diretora de Patrimônio Histórico-Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Vanda Moraes, escrevi e editei o catálogo onde constam todos os projetos que concorreram na ocasião para a construção de teatro para o presente e o futuro.

O concurso contou com 220 projetos inscritos por arquitetos do Brasil inteiro e, ao final, foram escolhidos 105 que formam o catálogo, com destaque para o projeto vencedor da equipe de Thiago Nieves que prevê um teatro de palco italiano com 1.120 lugares, outra sala de espetáculos para um público de 465 pessoas, além de espaços multiuso para "atividades cênicas, corporais, visuais, musicais e uma biblioteca." Também estão no projeto original "o caráter didático e administrativo da obra que abrigaria oficinas de artes, salas de figurino, depósitos e salas de apoio a serviços no subsolo."

O Teatro Guaíra, em Curitiba, construído em 1952, conta com três auditórios com 2.173, 504 e 113 lugares. Ele foi projetado para o futuro e nada impede que Londrina também pense num futuro que já foi atrasado em mais de uma década.

Não é possível que representantes de um estado que ocupa hoje um lugar destacado no ranking nacional de desenvolvimento, tendo Londrina como uma de suas cidades mais importantes, não tenham força política para a construção de um teatro que não deve ser objetivo de um grupo específico ou partidos únicos, oscilando entre gestões. O Teatro Municipal é o desejo de mentalidades abertas e de um público crescente que lota o Ouro Verde e até espaços improvisados em seus festivais, ocupando também arquibancadas carentes de reparos, para realizar a vocação da cidade que cresceu sob o signo da cultura.

Senhoras e senhores, vamos mexer os pauzinhos da política pensando na população.