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. | Foto: Marco Jacobsen

Quando a gente pensa que já viu de tudo, surge um absurdo para nos lembrar que a espécie humana ainda pode ter ideias mirabolantes como lotear a própria mente para que a gente sonhe com... anúncios. Isso mesmo, a nova onda é mostrar anúncios na TV, anúncios na internet e anúncios em nossos sonhos.


A ideia partiu de um grupo de pesquisadores norte-americanos que criaram um projeto que funcionaria da seguinte maneira: antes de dormir, pessoas são submetidas a uma técnica chamada Incubação de Sonhos Direcionada (TDI, na sigla em inglês), sendo levadas a assistir vídeos com imagens de determinadas marcas para sonhar com elas depois. A ideia já estaria agradando a grande cervejaria Molson Coors e a rede Burger King. Para que isso se torne realidade, os pesquisadores enviaram cartas aos legisladores para que haja uma regulamentação da técnica que vai plantar sonhos com marcas registradas em nossas cabeças, a ideia é fazer com que elas surjam como propaganda induzida enquanto a gente dorme. Mas eles mesmos alertam que isso levanta uma questão ética muito séria, afinal, nossa mente não é um outdoor, o que não impede que a pesquisa continue.



Os primeiros testes consistiram em mostrar imagens de cachoeiras e parques cheios de neve para um grupo de pessoas antes que elas adormecessem. Submetidas ao vídeo criado por uma especialista em sonhos, essas pessoas também foram levadas a pensar com afinco que iriam sonhar com o que viram. E não deu outra: ao acordarem, os participantes das experiências relataram ter visto algo parecido ao que assistiram nos vídeos antes de dormir.



Aí alguém poderá dizer: "mas isso já acontece quando assistimos à TV antes de cair no sono." Ocorre que isso seria feito de modo sistematizado, com pessoas que topem fazer da sua mente um telão de propaganda. Aí, no vale tudo por dinheiro, não demoraria muito para saltarem de nossos sonhos latinhas de Coca-Cola, argolas de embalagem de cerveja e um mundo de bugigangas como tapetinhos de plástico, sacos de batatinhas chips e o que mais couber nas mentes pouco seletivas.



Com alguma sorte, sonharíamos com um livro ou uma garrafa de vinho, artigos de luxo no saldão dos sonhos que, vocês podem apostar, ainda trará para nosso sono embalagens de isopor, latas de sardinha e talco para os pés, naquela propaganda gritada pelos supermercados em anúncios de fim de semana, narrados na velocidade dos takes de linguiça toscana ou das caixas de ovos a 5 reais.



Eu já fiquei imaginando se o TDI também serviria aos pesadelos. Imaginei que pudesse sonhar com meu velho carro dos anos 1990, um Fiat 147 que foi roubado e devolvido pelo ladrão, coisa que também poderia acontecer no...sonho. Ou imaginei ser induzida a ver a propaganda de um político mentiroso ou as fake news daquele grupo que pode querer vender um terreno na Lua ou na Terra Plana.



Como vocês veem, nem tudo são flores ou montanhas cobertas de neve em sonhos que podem ser induzidos para o bem e para o mal. Deus me livre de lotear meu inconsciente a ponto de poderem determinar com o que devo sonhar. Prefiro as surpresas de poder voar enquanto durmo ou voltar ao quintal da minha infância para colher caquis dourados, como fiz esta semana.

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Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.

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