Muito tristes as mortes do ator Lee Sun- Kyun, do premiado filme "Parasita", e do youtuber PC Siqueira. Ao que consta, os dois se suicidaram nos últimos dias do ano. Ambos infelizes, deprimidos, dando sinais de que a vida contemporânea está nos levando a dançar à beira do abismo. Ambos famosos, seja o que for que represente a "fama" de ter os rostos expostos no cinema ou na internet dentro daquele espírito insatisfatório que ensina: quem vê cara não vê coração. Os dois morrem ainda jovens, Lee Sun-Kyun aos 48 anos, PC Siqueira aos 37, poderíamos dizer à flor da vida mas, para eles, foi à flor da morte.

Ao mesmo tempo, o biólogo e professor da USP Luis Schiesari acaba de divulgar dados de um estudo que detectou a presença de antidepressivos na bacia do Rio Tietê, em SP, sinal do alto consumo desse tipo de substância e de um modo de vida adoecido, como revelado numa pesquisa inédita.

A saúde mental merece cada vez mais atenção. Há muita gente sem tratamento, sem amor, sem apoio. Vivendo e morrendo solitárias, apesar do excesso de exposição, mídia, "fama" e falsa felicidade que estão levando pessoas - mesmo que não sejam celebridades - a se consumirem, como se as fragilidades escondidas nas poses e nas lives as corroessem por dentro.

Há uma busca incessante por um padrão, sobretudo de aparências, que torna as pessoas infelizes. Talvez a aceitação de uma carreira nem tão vitoriosa ou do excesso de peso trouxesse mais felicidade do que a perseguição extrema do sucesso profissional e das dietas incessantes. Mas o mundo não está para pessoas comuns, todos querem ser youtubers, influencers ou qualquer coisa que valha aqueles dois minutos de fama dados pelas novas mídias, segundo Andy Warhol.

Talvez, um sopro de alegria simples, genuína, não fabricada, aquela do prazer nas coisas do cotidiano, pudesse nos fazer mais felizes que os excessos de afirmação sobre ser bonito, famoso, engajado ou realizado aos olhos dos outros. Importa mesmo é ser feliz com as pequenas coisas, em vez de naufragar nas grandes.

E o que seriam as pequenas coisas? Um gesto que possa representar algo a mais num cotidiano difícil ou tedioso. Tirar o filho do quarto e das telas para um café da tarde com mesa posta, ou dar à vizinha uma muda de planta estimulando para que ela possa ver a vida crescer na sacada. Tudo isso pode parecer pouco perto dos abismos que se abrem por dentro das pessoas, mas talvez funcione como um pouquinho de terra aos pés da roseira que perde forças. As plantas, cotidianamente, me dão lições que tento passar para a frente.

Em seu último vídeo, PC Siqueira afirma: "tenho que começar a me amar mais (...) é uma coisa que não tem acontecido nos últimos 37 anos"


Grandes coisas, que podem parecer pequenas, dependem de reconstruções diárias de autoestima que nos levem ao amor à vida. Coisas aparentemente simples, mas de difícil conquista num mundo tão exigente na produção e consumo de imagens.

É preciso lembrar que imagens não são pessoas.

Feliz Ano Novo!