Todo ano ele reaparece com aquela cara fofa, todo peludo, orelhudo e colorido. Dizem que traz chocolates, mas eu observo o Coelho da Páscoa sob um outro prisma, no fundo, acho esse personagem maluquinho, ele se multiplica com mais facilidade em facetas diferentes da sua própria criação.

Primeiro, me identifico com o Coelho de Alice no País das Maravilhas porque ele vive atrasado, eu também. Perco a conta de quantas vezes no dia me sinto ofegante, de olho no relógio para saber quanto tempo resta para dar conta do recado. Em dias puxados, passo pelas pessoas dizendo: “estou atrasada, estou atrasada” e, nestes momentos, acho que minhas orelhas crescem, sem contar que esbarro e derrubo coisas tentando vencer os prazos sempre curtos.

Se fosse coelha seria muito desastrada, não teria aquela gravata do Coelho de Alice e os óculos já teriam espatifado no chão. Mas como sou gente, tento manter a calma e dar um contorno humano à minha falta de tempo.

A cultura é um terreno fértil para os coelhos: nas HQs tem o Max, do Sam & Max, que é um coelho com um sorriso medonho, talvez mais enigmático que o Gato que Ri. Tem ainda as Coelhinhas da Playboy que ficaram fora de moda depois que o movimento feminista mostrou que as mulheres são mulheres e não tem nada a ver com “coelhinhas”, aquele ícone sexy inventado por Hugh Hefner, o homem que achava que podia tudo, até mesmo pôr orelhas e rabos de pelúcia em mulheres lindas, transformando a vida delas numa rotina humilhante.

Mas é melhor pular essa parte e voltar a exemplos inspirados nesses animais simpáticos, mas sempre bonzinhos. Na ordem dos coelhos poderosos temos o coelho da Mônica que adquire uma velocidade estonteante nas histórias de Maurício de Souza distribuindo porradas para Cebolinha e Cascão. Seu nome é Sansão e ele tem muita força, não só física, mas força lúdica, que faz dele um dos personagens mais conhecidos das histórias infantis, inspirando os dentes da Mônica e desconfio que até os de Dilma Rousseff.

Mas o mais representativo da família dos coelhos fictícios é o Pernalonga que vive dizendo: “O que há velhinho?” . Quando o velhinho é ele mesmo porque nasceu em 1940. Ele tem em sua vida uma coleção de aventuras, chegou a jogar basquete com Michael Jordan, coisa que nunca vi, mas posso provar convidando vocês a assistirem vídeos no YouTube nos quais a realidade tem tudo a ver com a ficção.

Até por isso, acreditem no Coelhinho da Páscoa e não tenham vergonha de criar histórias. Eu acredito piamente nele e faço ninhos para que me traga ovos de chocolate, única função séria de um coelho que, além disso, só tem que comer cenouras e correr na grama. Com toda essa rapidez, não é à toa que os mágicos transformam os coelhos em seus coadjuvantes, tirando um deles da cartola toda vez que a situação exige um pouco de ilusão. É isso que eu faço, nos fins de semana, quando preciso transformar os textos num desenho de Hanna-Barbera, eles são os coelhos que saem da cartola de uma jornalista que vive atrasada. E se vocês me acompanharam até aqui, correndo e pulando, só posso desejar Feliz Páscoa para adiantar o expediente.

* Crônica revisada e publicada originalmente em abril de 2017. E me desculpem a republicação, eu vivo correndo e atrasada.

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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