A notícia da morte do Papa Francisco me comoveu.

Havia me acostumado com sua presença generosa, sua luz solar num mundo onde se multiplicam candeeiros. Uma luz espiritual como a dele é rara.

Flagrei-me algumas vezes, enquanto trabalhava com as notícias, refletindo sobre como fica o mundo com a sua ausência, embora sua presença ainda preencha tudo.

Mas quem ficará no lugar de Francisco que, com suas atitudes e palavras, era capaz de colocar algum equilíbrio num mundo totalmente desequilibrado, às vezes chamando para si a ira dos prepotentes? Coragem era sua marca, o seu sinal quando conclamava: "Sejam revolucionários!"

Enquanto trabalhava em equipe, para colocar no jornal as notícias sobre a morte do Papa, me emocionava às vezes com as informações que chegavam. Estávamos trabalhando desde o último domingo com o noticiário porque era Domingo de Páscoa e sua presença na Praça de São Pedro acendeu a esperança de que o pior havia passado.

Na segunda-feira (21), a notícia de sua morte mostrou que sua atitude em meio ao povo no domingo era uma despedida, a última entrega.

Quando divulgaram seu testamento, escrito em junho de 2022, li que ele tratou com tranquilidade o que chamou de "crepúsculo da sua vida", deixando instruções para ser sepultado na Igreja de Santa Maria Maggiore e não na Basílica de São Pedro, onde estão sepultados os outros papas.

Também pediu um caixão simples e uma única inscrição no seu túmulo: o nome Franciscus, numa demonstração da fé e da simplicidade que cultivou em vida e preserva na morte, confiante na "vida eterna".

Por fim, o Papa Francisco escreveu que dedicava o sofrimento de seus últimos anos, com os problemas de saúde, à salvação da humanidade.

Isso traz a ideia de uma esperança tão viva que mexe com o coração dos que são tocados pelo verdadeiro cristianismo, com menos dogmas e mais amor ao próximo, menos ambição e mais luz, menos omissão e mais coragem para olhar para os mais pobres, até o último instante, como ensina o verdadeiro cristianismo cada vez mais subutilizado por alguns líderes religiosos que acumulam dinheiro e poder. O show de algumas igrejas, hoje, é a antítese do Evangelho.

Ainda pergunto: quem ficará no lugar de Francisco, num momento tão grave, quando os escombros da Faixa de Gaza, a destruição da Ucrânia e das nações indígenas nos mostram a humanidade de coração duro? Os mísseis cruzam países incendiando os últimos vestígios dos homens de boa vontade.

Quem ficará no lugar de Francisco terá a sua espiritualidade? Sua compreensão para com a diversidade? Sua firmeza para dissolver preconceitos? Sua ousadia para realizar mudanças? Sua humanidade para tratar das coisas do Espírito?

Não sabemos. Vamos ficar com sua bênção sobre a cabeça de cada criança que ele pegou no colo porque, no momento, somos crianças que também perderam um Pai.

A luz solar de Francisco vai fazer falta num mundo de minúsculos candeeiros.

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