Poucos meses depois de lançar uma ferramenta revolucionária para a produção de textos, a OpenAI teve que correr atrás do "prejuízo." Não o econômico, porque o ChatGPT, embora ainda gratuito, tem tudo para deslanchar no mercado em sua versão 4.0 que possivelmente será paga. Além disso, a empresa já recebeu um investimento de 10 bilhões de dólares da Microsoft que está interessada na novidade para concorrer com o Google.

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O "prejuízo" da OpenAI , assim mesmo entre aspas, não seria econômico, mas de imagem, porque a sua ferramenta revolucionária estava preocupando o mundo acadêmico e toda cadeia de produção de textos pelo risco da cola. É muito simples um estudante criar um texto no ChatGPT e enviar ao professor como se fosse de sua própria autoria, assim como pretensos escritores criarem histórias através da máquina e assinarem como se os textos fossem seus, o que, pessoalmente, considero uma desonestidade.

Por tudo isso, a OpenAI acaba de lançar um recurso que identifica textos produzidos por inteligência artificial (IA), acabando com a festa de quem quer parecer o que não é.

Confiram aqui a nova ferramenta

A novidade foi divulgada na última quarta-feira (1) e , pelo menos na fase de testes, a ferramenta foi capaz de identificar em 26% dos casos um texto "provavelmente produzido por IA." No entanto, a OpenAI alerta que a ferramenta, ainda, deve ser usada como complemento de outros métodos de classificação de textos.

Na quinta-feira (2), na Folha 2, publicamos matéria com declarações do professor Miguel Contani, do Departamento de Comunicação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), que já sugeria, a exemplo de outras universidades nacionais e internacionais, adotar métodos para identificar quando um texto é original ou não pelo padrão da linguagem. Ele sugeria também, no compasso de docentes do mundo inteiro, que as avaliações não poderiam continuar sendo feitas apenas através de textos escritos, mas a partir de exposição oral, por exemplo.

A novidade da OpenAI, com a criação de uma ferramenta que ajuda a identificar a origem dos textos, certamente acalma o universo da educação e de outras áreas sobre a questão da cópia, mas a ferramenta ainda não é perfeita e outros métodos de avaliação de conhecimento, além da escrita, são bem-vindos. Chegaram a cogitar, até mesmo, que alunos passassem a escrever textos à mão.

Tudo isso me fez refletir sobre os caminhos do conhecimento, achei interessante os estudantes voltarem a fazer manuscritos em plena era tecnológica. Por quê? Porque a reflexão de quem escreve por si próprio, ainda que seja à mão ou no computador, com honestidade, é muito diferente de quem copia e cola, inclusive quando a cola é feita a partir de fragmentos de artigos ou textos inteiros encontrados na busca do Google.

Ao criar o "veneno" (um chatbot que produz textos apenas com algumas instruções sobre o tema) e o "remédio" (uma ferramenta que identifica a procedência dos textos) , a experiência da OpenAI deixa um ponto importante de reflexão: não podemos inverter valores a ponto de virarmos reféns de ferramentas tecnológicas. A originalidade das atividades humanas, seja na arte, na literatura, no jornalismo ou na educação, devem ser mantidas com a ajuda valiosa da IA, isso é muito positivo. Mas não podemos ceder ao impulso de perder a humanidade em nossas criações. Pensar, refletir e criar, preservando a originalidade, são atributos humanos ou seremos nós os robôs num futuro bem próximo.

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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