Há um século, se ouvíssemos falar de uma doença contagiosa que apareceu na longínqua cidade chinesa de Wuhan, não teríamos a preocupação de que chegasse a outros continentes em tempo recorde. Mas na era da globalização, o coronavírus se espalhou rapidamente saltando para a Itália, que hoje é recordista em vítimas fatais, sobretudo na região da Lombardia. A triste condição de futuro epicentro, em poucas semanas, poderá ser dos EUA, com Nova York liderando tristes estatísticas. Hoje, as barreiras para uma contaminação progressiva inexistem.

No Brasil, graças a ação rápida de alguns estados e municípios, criam-se bloqueios para a propagação da doença, se o 'sabichão' que temos como presidente da República não atrapalhar a quarentena com suposições sem nenhuma base científica, tentando salvaguardar interesses econômicos, antes de salvar vidas. Alguém precisa explicar a ele que sem vida não há economia nem política, a saúde é um bem acima de todos neste triste momento. Mas não há tempo nem mesmo para criticar sandices presidenciais. Existe uma enorme batalha pela frente e sequer conhecemos todas as variações, estratégias e riscos oferecidos pelo inimigo.

Notícias da última quinta-feira (26), davam conta que os cientistas brasileiros pesquisaram pela segunda vez em tempo recorde o sequenciamento do genoma da doença em pacientes de diferentes regiões do País: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. E, pasmem, há variações do vírus no Brasil que aparece com diferentes características dependendo da região.

É importantíssimo a ciência demonstrar com pesquisas essas diferenças. Mais importante ainda é checar os números e notar que no Brasil a progressão da doença tem sido mais rápida que na Itália.

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. | Foto: Marcos Jacobsen

Dados do último dia 25 mostram que após um mês do primeiro caso na Itália já existiam 1.694 pessoas contaminadas; no Brasil, após um mês do primeiro caso ser constatado já existem 2.555 pessoas contaminadas. Da mesma forma, no período de um mês foram 29 mortos na Itália e 59 no Brasil. Infelizmente, em relação à Itália , a progressão do vírus aqui tem sido mais rápida.

Diante desses dados, todo cuidado é pouco. Usando o bom senso como cidadãos, vamos manter o isolamento social e seguir as orientações das autoridades sanitárias que estão acima de qualquer politicagem.

Em tempos tão difíceis me recordo da Hipótese de Gaia, proposta pelo cientista britânico James Lovelock, em 1972, como um modelo de ecologia profunda. Ele levantou a hipótese de que a Terra - denominada Gaia por causa da deusa da mitologia grega que protege os seres vivos - teria um sistema de autorregulagem para controlar a sua temperatura, clima, eliminação de detritos e também apto a combater suas doenças. A teoria não teve a aceitação de todos cientistas, mas não resta dúvidas que em momentos como o que vivemos hoje ela ecoa.

Numa associação pessoal, penso que neste momento de crise Gaia usou sua autorregulagem através de uma pandemia que causa a tristeza das mortes em massa, mas também coloca o ser humano, com sua arrogância e ganância em usar e destruir sistemas e recursos naturais, em seu devido lugar.

A função da Terra é deixar tudo em condições propícias para sustentar a vida e talvez estejamos diante de uma reação planetária para garantir isso. A teoria de Gaia prevê que a Terra funciona para promover a relação entre os seres vivos e o meio ambiente e, sobretudo, entre nossa espécie e as demais espécies. Como exercício, vamos pensar sobre isso num momento de caos em que um pequeno ser vivo, um vírus, ameaça a nossa espécie demonstrando que a pretensa superioridade humana é um engano.