Esta semana, num desabafo, a cantora sertaneja Marília Mendonça declarou que “a separação de casais famosos não pode ser considerada entretenimento.“ Disse isso no momento em que ela mesma virou notícia pelo fim de sua relação com Murilo Huff. Disse isso, lembrando também que a fofoca do momento é a separação do sertanejo Gusttavo Lima de sua mulher, a influenciadora Andressa Suita.

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. | Foto: Marco Jacobsen

O fato é que a separação de Gusttavo Lima, que já vem sendo desmentida, se transformou num dos principais assuntos das redes sociais depois de culminar com a notícia de que ele teria se envolvido com Mallu Ohana.

Depois de muito diz que diz, há quem já considere que tudo não passou de um golpe de marketing, no qual Mallu Ohana ganhou a visibilidade que nunca teve e Gusttavo Lima e a mulher viraram assunto dos trends disputados a cada armação. Na última quinta-feira (22), o cantor sertanejo lançou “Tudo Que Eu Queria”, que fala de reconciliação amorosa. A julgar pelas “coincidências”, a possibilidade de um golpe marqueteiro sobre uniões e separações ganha força, com milhares de compartilhamentos e uma enxurrada de dinheiro garantido, enquanto fãs, amigos e inimigos se estapeiam para defender uma parte ou outra no divórcio que não se consumou.

A julgar por esse ponto de vista, Marília Mendonça tem toda razão: a separação de famosos não pode - ou não poderia - se transformar em entretenimento, mas a pergunta é: por que o público gosta tanto de fofoca?

O diz que diz em torno das vidas de qualquer ídolo tem mais publicidade ou visibilidade que notícias importantes. Quem esta semana se preocupou com a chegada de uma missão da Nasa ao asteróide Bennu, distante 321 milhões de km da Terra? Ou fez uma análise minuciosa, além das fontes especializadas, das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a vacina chinesa e a politização de uma doença grave?

Tudo isso perde o valor diante da “separação” de um cantor sertanejo que hoje deve estar rindo de orelha a orelha enquanto canta: “Tudo que eu queria agora/ Era roubar teu beijo/ Ter você de volta /Matar meu desejo /Que vontade louca/ Juro, não estou aguentando”, terceira faixa do álbum The Legacy lançada num momento estratégico.

As redes sociais se transformaram na grande janela dos condomínios, capazes de fazer uma fofoca ter enorme força de marketing. A “gostosona” do sexto andar, alvo de desejos e maledicências, encarna facinho na carreira de um artista, mobilizando olhares e conversas que resultam em 5 milhões de visualizações em uma semana porque as redes são o maior fechadura de voyeurs de que se tem notícia: tudo se vê, tudo se sabe, tudo se espia e famosos sabem se colocar muito bem nas frestas.

Estudos apontam que a fofoca sempre esteve presente na história da humanidade. Na pré-história, adversários já espalhavam “informações” sobre a fraqueza do outro, de modo a corromper ou tomar um território. Na vida social, a fofoca está intrinsecamente ligada a uma autoestima reversa: com ela muitos procuram provar que são melhores – mais educados, mais bem vestidos ou mais generosos – do que os outros. Apesar de tudo, são poucas ainda as pesquisas científicas sobre a fofoca.

Mas basta falar da vida de alguém, de suas posses, seu divórcio ou sua falência para mobilizar milhões de olhos e ouvidos, sobretudo se o objeto da fofoca for um “famoso” que já faturou R$ 5 milhões com uma live. O cachê deverá dobrar com ele estufando o peito de emoção para cantar: “Não vou deixar você morando aí sozinha/ Você é tudo o que eu queria.” E aí, separado ou não, ele abre o cofre e desce o pano.