O país do Carnaval em contraste com o mundo em guerra
Alegrias e vitórias se juntaram na festa que teve 8% a mais de foliões nas ruas em relação a 2024
PUBLICAÇÃO
sábado, 08 de março de 2025
Alegrias e vitórias se juntaram na festa que teve 8% a mais de foliões nas ruas em relação a 2024
Célia Musilli

O Carnaval de 2025 no Brasil contrastou com um mundo no qual países amargam a tristeza da guerra, do apartheid e das ameaças de invasão a outros territórios.
O Carnaval não passou de uma "bomba de alegria" que se juntou à torcida pelo filme "Ainda Estou Aqui" no dia da cerimônia de entrega do Oscar. No momento da revelação dos vencedores do cinema mundial no último domingo (2), misturava-se ao samba das avenidas uma expectativa que só se viu nas Copas do Mundo.
Os brasileiros juntaram o samba a hinos de times de futebol na hora em que Walter Salles recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, prêmio inédito na história do cinema nacional. Fernanda Torres não recebeu o Oscar de Melhor Atriz, mas já tinha sido agraciada antes, no Globo de Ouro, com o mesmo troféu. O fato é que as vitórias brasileiras foram festejadas no Carnaval que teve 8% a mais de foliões nas ruas em relação a 2024.
Estimativa do Ministério do Turismo calcula que 53 milhões de pessoas estiveram nos desfiles dos blocos de Norte a Sul. Isso é maior que os 10,4 milhões de habitantes da Grécia e chega perto da população de 58,99 milhões da Itália. Uma potência humana que encontra seu lugar num rito de alegria e o Brasil deve ser grato a isso.
As imagens da Ucrânia devastada, com famílias e cidades destruídas pelas bombas, contrastam com as imagens de blocos fantasiados em todas as capitais do Brasil. As imagens da Faixa de Gaza com sua vida cotidiana interrompida, milhares de mortos, e sobreviventes sem expectativas de futuro, contrastam com a alegria das pequenas cidades brasileiras onde não faltam o surdo e a cuíca marcando o ritmo da festa nacional.
O Carnaval, como outros ritos da Antiguidade, é momento de celebração catártica que dá vazão à alegria, ao mesmo tempo em permite a dissipação das tensões e das raivas que podem se converter em desejos de morte no lugar da vida.
Em Salvador (BA), um dos epicentros do Carnaval brasileiro, com cerca de 11 milhões de foliões em 2025, houve uma redução de criminalidade este ano, sem registros de mortes violentas, segundo a Secretaria de Segurança Pública. A Secretaria também destacou a redução nos crimes contra o patrimônio, com quedas de 33% nos roubos e 32% nos furtos em relação a 2024.
Não dá para afirmar, ainda, que o Brasil está se tornando menos violento, mas é um alívio observar que uma festa com 53 milhões de pessoas nas ruas terminou sem registros numericamente mais chocantes do que em qualquer outra fase do cotidiano nacional.

