O rosto meigo da atriz Regina Duarte lhe rendeu um título nacional: “a namoradinha do Brasil.” Mas no último dia 4, tão logo ela tomou posse como secretária da Cultura do governo Bolsonaro, exonerou seguidores de Olavo de Carvalho - contratados quando Roberto Alvim era ainda o secretário que acabou escorraçado pelo próprio “chefe” depois de encarnar Goebbels - e isso bastou para que as redes da extrema-direita vociferassem que “a namoradinha do Brasil” tinha se transformado na “namoradinha da esquerda”. Eu ri, porque Regina Duarte, enfim, acordou “comunista”.

Não dá para levar a sério pessoas que saem da "brincadeira" como moleques mimados tão logo alguma coisa não corresponda ao que pretendem e largam a bola. Em uníssono, eles podem tanto incensar uma pessoa quanto destruí-la se o “comando” que vem lá das bandas da Virgínia (EUA) chegar aos ouvidos da turma que obedece a ordens como robôs de carne e osso.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Regina Duarte nunca foi de esquerda e nem será. Regina fez fortuna sobretudo como atriz da Rede Globo, investiu na pecuária e, de alguns anos para cá, tem tentado tornar tão meigas quanto sua imagem as grosserias de uma ala política que tem como líder, segundo ela, um cara que se parece com seu pai, com um “humor brincalhão típico dos anos 1950, que faz brincadeiras homofóbicas, mas que são da boca pra fora, coisas de uma cultura envelhecida, ultrapassada".

Ela deveria completar sua opinião, observando que o humor “típico e homofóbico” não cabe mais no século 21 porque é ultrapassado mesmo, tanto quanto os preconceitos que lhe deram origem. Mas prefere adular a grosseria de modo que tudo pareça tão suave quanto sua postura angelical nos anos 1960, de triste memória.

De minha parte, espero que Regina Duarte, por ser artista, tenha um mínimo de compreensão sobre as dificuldades dos que tentam fazer um trabalho sério no País. Porque, no momento, o Brasil está impregnado de valores que elevam o show business da música sertaneja, o humor cínico e outras idiossincrasias ao patamar de “cultura brasileira”, tão mais rica e diversa do que certas expressões rasteiras.

Com tristeza, vemos hoje na presidência um senhor que contrata um humorista, com faixa presidencial e tudo, para fazer seu próprio papel de “palhaço” na saída do Palácio Alvorada, dando bananas à imprensa e ao povo que paga suas contas e as de sua família que se beneficia da função que ele deveria honrar com postura.

Foi-se o tempo que o Brasil tinha lideranças das quais podíamos nos orgulhar como Juscelino Kubitschek, pelo que comunicava de seriedade e elegância, ou Ulysses Guimarães, firme na sua cruzada pela redemocratização do Brasil. Homens que independentemente de partidos ou ideologias não davam vexames na condução da vida pública. Foi-se o tempo dos grandes políticos e dos grandes discursos, sobrou uma cepa de políticos bizarros, entre deputados, senadores e até presidentes, que se comportam como animadores de auditórios, confundindo a vida pública com um certo pendor “artístico” para o ridículo.

É nesse meio que Regina Duarte está inserida, bem consciente de qual será o seu papel depois de "namorar" o Brasil, "noivar" e “casar” com Jair Bolsonaro. Tudo não passa de uma novela com enredo infeliz, de modo que devo concordar com um amigo experiente que me alertou: 'Célia, entre a Regininha 'namoradinha do Brasil' e as 'olavetes' o certo é torcer pela briga!” Acho que ele tem toda razão.