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. | Foto: Marco Jacobsen

A imprensa nacional, quase em peso, publicou na última quarta-feira (28) a notícia falsa de que Paulo Cupertino, assassino do ator Rafael Miguel - que participou do elenco de "Chiquititas” - e de seus pais, havia sido preso no norte do Paraná. O criminoso, procurado desde 2019, de fato fez documentos falsos em Jataizinho, mas não foi preso pela polícia do Paraná e continua foragido. Um equívoco na prisão de outras pessoas numa operação policial deu origem ao engano.

A Folha de Londrina não se precipitou para dar a notícia em seu site, os repórteres checaram as informações antes de divulgar e viram que a notícia não se sustentava, isso evitou um enorme equívoco. A FOLHA noticiou depois o desmentido sobre a prisão do assassino numa matéria informativa, explicando que o engano aconteceu porque a polícia de São Paulo teria dado como certa a prisão do assassino, coisa que a polícia do Paraná não informou nem confirmou.

Um dos pilares do jornalismo é a apuração dos fatos, antes de tornar pública uma informação é preciso checar os acontecimentos e as fontes para ter certeza do que será publicado. No dia da notícia falsa sobre a prisão de Cupertino, a redação da FOLHA fez valer seu “espírito de corpo”, com muitos repórteres conversando e checando suas fontes ao mesmo tempo em que viam a “notícia” voar nos sites e portais de imprensa como se fosse um grande “furo”.

Todos nós estamos sujeitos a erros, escorregar na casca de banana da notícia é coisa que acontece e o jornalismo está cheio de “cascas de banana.” Essa particularidade pode ganhar força em tempos de jornalismo digital, que é quase simultâneo ao fato, mas isso não dispensa a apuração. O jornalismo digital também é o jornalismo da afobação, no qual cada um quer chegar primeiro, mas o jornalismo não pode se resumir a uma corrida, a uma maratona na qual a pressa vale mais do que a credibilidade.

Em tempos de fake news, que é a nova assombração da imprensa, a credibilidade tem um peso expressivo quando se trata da relação do veículo com o leitor. Ao fim de duas ou três notícias falsas, dadas como corretas, o leitor passa a desconfiar da imprensa, alvo natural de quem, inclusive, vive de fake news. A imprensa sempre aparece como “culpada” em inúmeros episódios, sobretudo políticos. O jornalismo criterioso, neste caso, sempre fará a diferença, o que não significa que não estamos sujeitos a enganos. Todos erramos, mas o engano não pode ser causado pela pressa do “furo” falso.

Num tempo midiático movido a likes ou visualizações, a tentação de sair em primeira mão é maior ainda. Com meios tecnológicos avançados, a ideia é sempre sair na frente, mas há que se considerar se o “sair na frente” se sustenta enquanto informação ou é apenas uma notícia artificial. Sair na frente da concorrência é quase uma meta diária, mas isso pode se transformar numa armadilha contra a credibilidade. Sem apuração não há fato, o que existe é um diz que diz ampliado pelas redes sociais que absorvem tudo sem critério e sem autocrítica. No caso da notícia falsa da prisão do Cupertino, toda a imprensa nacional que divulgou o fato fez depois a correção. Foi a primeira vez que vi uma errata quase nacional ou coletiva.

Deste episódio, repito, fica uma lição que serve a todos nós: sem apuração não há fato. De minha parte, senti orgulho da equipe de editores e repórteres da FOLHA, do seu senso de responsabilidade. A última quarta-feira foi, sem querer, um dia de revisão dos critérios jornalísticos. E senti orgulho daquilo que considero a nossa escola: o dia a dia da notícia com mais seriedade do que pressa.