Marina sofre ataques de senadores que querem "passar boiadas"
A ministra do meio ambiente está em seu devido lugar e ainda tem um lugar garantido no futuro: na História
PUBLICAÇÃO
sábado, 31 de maio de 2025
A ministra do meio ambiente está em seu devido lugar e ainda tem um lugar garantido no futuro: na História
Celia Musilli

Na última terça-feira (27), a ministra do Meio Ambiente Marina Silva sofreu um ataque no Senado. O desrespeito partiu dos senadores Plínio Valério (PSDB- AM), Marcos Rogério (PL- RO) e Omar Aziz (PSD -AM), considerado um governista, mas que na hora do ataque mostrou sua verve em relação às pautas ambientais, porque não basta ser governista para ser progressista.
A ministra havia sido convidada para a audiência pública na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, mas se retirou após a sessão de agressões.
Depois de implodir as regras do licenciamento ambiental no Brasil, o Senado e o Congresso parecem se juntar, mais uma vez, para "passar a boiada" na BR-319 e aprovar a exploração de petróleo na foz no rio Amazonas mexendo com um dos ecossistemas mais delicados do planeta.
Não custa lembrar que também não adianta o governo falar da crise climática, promover a COP-30 no Brasil e, ao mesmo tempo, defender a velha fonte de energia fóssil que é uma das principais causas da tragédia ambiental.
É preciso se colocar criticamente nos contextos políticos para entender uma verdade, doa a quem doer: a luta nem sempre é entre a esquerda e a direita, chega um momento, como agora, que é entre quem protege e quem se locupleta com a devastação ambiental.
Se neste quesito a direita é totalmente conivente, a esquerda também faz vista grossa na hora de propor hidrelétricas à força, passando por cima de populações ribeirinhas e terras indígenas, e acatando, contra todas as evidências de desastre, a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
Nesta hora, sou contra o oportunismo de quem quer passar boiadas.
O Congresso e o Senado, com honrosas exceções, vivem tempos terríveis com a desqualificação do debate político. Hoje, o que seria a defesa legítima de ideias e projetos se transformou num circo de horrores, uma baixaria presente nas posturas, nos comportamentos e na linguagem.
Vai longe o tempo em que tínhamos políticos qualificados como Ulysses Guimarães ou Leonel Brizola. Ainda assim, é preciso destacar que nem todos usam o discurso agressivo para a pauta da destruição ambiental num mundo em colapso climático.
Na página de Marina Silva a audiência subiu sensivelmente após os ataques, milhares de pessoas a defenderan nas redes sociais e cerca de 30 deputadas se manifestaram em seu favor, além da Ministra das Mulheres, a londrinense Márcia Lopes, que lhe prestou solidariedade durante sua posse na quarta-feira (28).
Marina Silva é reconhecida no Brasil e no mundo por sua longa trajetória em favor do meio ambiente desde que saiu do Acre, onde aprendeu o valor da luta política com Chico Mendes. Ainda assim, o senador Marcos Rogério, que preside a Comissão de Infraestrutura, disse à Marina: "Ponha-se no seu lugar", num ato de desrespeito. Ele cortou por seis vezes o microfone durante as falas da ministra.
O Instituto Vladimir Herzog já enviou representação protocolada à Comissão de Ética do Senado apontando ofensas e conduta misógina de Plínio Valério e Marcos Rogério durante a audiência.
Estes senhores precisam compreender que Marina Silva está em seu devido lugar e ainda tem garantido um lugar especial: na História, ao contrário de nomes que serão varridos pelo tempo para alívio das gerações futuras.
* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

