Existe um universo de conhecimento a que as pessoas que frequentam universidades e academias nem sempre estão acostumadas. Um local que recebe todas as noites, cinco dias por semana, alunos que não tiveram a oportunidade de concluir os estudos em idade adequada.

Trata-se da EJA - Educação Para Jovens e Adultos - que funciona no período noturno e recebe milhares de pessoas que trabalham durante o dia mas, cuidadosamente, assim que terminam sua jornada nos empregos rumam para as escolas. Elas vão recuperar o tempo de estudos ao qual nem sempre as pessoas menos favorecidas têm acesso em idade regular.

Por conta do lançamento do meu livro A Cidade na Retina (editora Atrito Arte), estive em dois cursos da EJA esta semana, na segunda e terça-feira abri uma janela depois do meu expediente no jornal para falar sobre a crônica, esse gênero literário que se ocupa dos registros do cotidiano. Encontrei pessoas nos cursos noturnos que são protagonistas de uma transformação que se faz pela educação, alunos e professores que resumem seus atos numa palavra: dedicação.

Meu livro tem o patrocínio do Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura - política pública que tem mais de 20 anos na cidade e leva regularmente autores e artistas a bairros e escolas, descentralizando o acesso a livros e espetáculos.

Quando se lança um livro ou se produz um filme ou espetáculo pelo Promic assumimos a responsabilidade de não agradar apenas aos nossos egos de autores ou nossos umbigos de artistas.

Cultura é educação, cultura é transformação, por isso rumei esta semana com meus livros debaixo do braço, junto com a editora Chris Vianna, para a EJA da Vila Nova e do Jardim Colúmbia, ainda iremos a outro bairro, o Santa Fé, fazendo um circuito que me traz alegria. Na próxima segunda-feira (18), também estarei na Biblioteca Pública da zona norte, às 10h, para conversar com estudantes.

Na EJA conheci a Neusa, a Joana, o Valdecir, o João, a Mayara, de idades e profissões diferentes. Dona Neusa, que tem cerca de 50 anos, recebeu meu livro como quem acolhe um bebê e me disse que além de lê-lo vai "emprestar para a patroa que adora ler."

Na Vila Nova, o Erick veio falar comigo depois do bate-papo com a turma. Quer escrever contos de terror, pediu dicas, e falou de um personagem que já tem até nome: Zaratrás.

Senti uma emoção danada ao conversar com quem quer aprender para realizar seus sonhos: melhorar de vida, ter um emprego mais bem remunerado ou escrever um conto. Vi de perto as experiências e realizações da EJA que merece um olhar especial das autoridades do estado, já que existe um plano de eliminar aos poucos esses cursos noturnos.

Segundo o Censo Escolar, em 2019 existiam 333 unidades escolares com ofertas de cursos no Paraná, em 2023 eram 283. Antes de podar as oportunidades, sugiro uma visita caprichada de representantes dos órgãos competentes à EJA, onde o cheiro da merenda, o esforço dos alunos depois de um dia puxado de trabalho e o ruído das canetas nos cadernos emocionam, abrindo espaços para um país melhor.