A série The Bridgertons é um sucesso absoluto da Netflix. Lançada em 25 de dezembro já arrebatou espectadores em 82 milhões de domicílios ao redor do mundo, o que significa que em cada casa o número desse público pode dobrar , tendo em vista que pelo menos duas pessoas possam tê-la assistido.

Com elementos que têm tudo para atrair o grande público - vida social, casamentos arranjados, discriminação contra a mulher, intrigas da corte e cenas de sexo - a série trouxe à cena um elemento que , como tendência cultural, dá um up à ideia de diversidade: atores negros como representantes da aristocracia no século 19.

Se aos negros representados em filmes quase sempre coube o papel de escravos - ou no máximo, simpáticos serviçais - a série criada por Cris Van Dunsen, baseado em livro de Julia Quinn, inverte a lógica da realidade para a de um mundo possível se a carga de preconceito racial não borrar a relação entre as pessoas. Os negros aristocráticos de The Bridgertons mais que um recurso de empoderamento proporcionam um reforço de revisionismo histórico ao mostrar que a Inglaterra teve uma rainha descendente de africanos: Charlotte, mulher do rei George III (1738-1820). A rainha teve retratos pintados com pele "embranquecida", o que denota o preconceito em relação à sua origem, mas sua trajetória mostra que a corte britânica teve representantes afrodescendentes bem antes de Meghan Markle se casar com o príncipe Harry.

.
. | Foto: Marco Jacobsen

O cinema tem respondido bem às lutas antirraciais com os chamados "filmes pretos" que dão poder à causa como "Pantera Negra", "Corra!" e "Moonlight", eles mostram tanto o orgulho quanto as agruras dos personagens numa sociedade preconceituosa.

Agora, a notícia de que o clássico da literatura norte-americana "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald, também vai se transformar numa série que reforça a ideia da diversidade vem para coroar os novos tempos nos quais se coloca o dedo nas feridas do racismo para extirpá-las.

Além da diversidade racial, a série "O Grande Gatsby" está sendo projetada para mostrar a diversidade sexual, com personagens LGBTQ, como indicam as primeiras notas sobre a produção. E aí não se trata também de mera ficção, nada mais sincero do que afirmar que os homossexuais circulavam mais à vontade nos salões do Grande Gatsby nos anos 1920, uma época de riqueza e liberalidade na sociedade norte-americana e em todo ocidente, que precedeu o conservadorismo da era vitoriana.

O revisionismo tardio, exercido em pleno século 21, mostra que a história merece ser vista por vários ângulos, além do oficial, e que os preconceitos introjetados na sociedade contra os negros e os homossexuais cheiram à naftalina ou a um ranço que precisa urgentemente ser superado porque a discriminação ainda é forte e vive nos cantos mais empoeirados das relações sociais.

Nada mais justo que os filmes, séries, livros e a arte em geral conduzam a humanidade a uma patamar mais evoluído, no qual negros não precisam ser embranquecidos para ter importância e gays não precisem viver trancados em armários para não "envergonhar a família". A diversidade, na vida e na arte, não é nada mais que o respeito às diferenças.