A invasão do Congresso norte-americano, depois da derrota de Donald Trump, nos deixa uma lição: o que está ocorrendo nos EUA pode acontecer aqui.

Esse é o resultado quando pessoas desequilibradas chegam ao poder e continuam insuflando suas matilhas com fake news e maus exemplos, atropelando sempre que podem a Constituição, as instituições e a democracia.

Trata-se de algo muito grave: a manifestação violenta na última quarta-feira (6), com ataque típico não de militantes mas de milicianos, é uma cepa do neofascismo se rearticulando em vários países. É um ato da extrema-direita incensada por tolos e pessoas de caráter duvidoso que alimentam o ódio e a polarização política ao máximo.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Trump incentivou a matilha nas redes sociais, mas também perdeu o controle sobre ela. Uma pessoa foi morta dentro do Congresso após ser baleada, mais três morreram no entorno do Capitólio deixando um triste saldo após a insurreição que teve a violência como principal forma de discordância política. Uma discordância sem nexo, já que foram realizadas eleições e nunca houve prova de que os resultados tenham sido fraudados, apesar da insistência de Trump numa teoria conspiratória que saiu de sua própria cabeça e encontrou capilaridade entre seus seguidores. Pergunta: se ele tivesse vencido as eleições teria insistido ou mesmo invocado a possibilidade de fraude? Ou sairia cantando loas sobre a vitória como sempre fez?

Atos violentos alimentados pelas fábricas de fake news - desde que as redes passaram a ser o principal instrumento de blefe na política - demonstram a que ponto chegam as neuroses coletivas quando um animador de falsidades se investe de um poder que pode moldar corações e mentes, ao mesmo tempo em que todo senso crítico dos seus seguidores desaparece num exercício que só tem um nome: fanatismo.

Os fatos gravíssimos, ocorridos em Washington, devem estimular a reflexão sobre esses acontecimentos com um mínimo de capacidade crítica da parte de todo aquele que se considera um cidadão responsável. Em que mundo mergulhamos quando seguidores de uma liderança nefasta invadem a socos e pontapés a casa que deve servir à democracia, com respeito a votos, eleições e valores?

Dentre os manifestantes que apostaram em arrombar violentamente o sentido da democracia, muitos estavam armados, outros ainda fantasiados, como o homem que foi até o Capitólio com chifres e um chapéu peludo, misturando as referências de um animal selvagem às de um homem das cavernas. Este tipo de exibicionismo dá a medida de quanto a violência tem se tornado performática na combinação da política com cenas midiáticas de péssimo gosto, nas quais dancinhas se misturam a ataques físicos e figurinos excêntricos ocultam armas de fogo.

Esse extremismo levanta nuvens pesadas sobre a democracia no ocidente. Uma democracia que, por mais que a gente critique, é o único modelo que ainda garante direitos a partir da constituição de poderes, eleições e legislação a ser cumprida. Perder esses pilares é cair no autoritarismo. E o abismo é fundo, todos nós sabemos.

Portanto, cuidado com as provocações políticas que vão se transformando em divisionismo e ódio latentes. Cuidado com governos que apostam em fraudes imaginárias, na manipulação das massas, na liderança demagógica, insuflando a raiva contra a imprensa e as instituições democráticas. Esses são princípios do fascismo, é histórico!