Quinta-feira (19) seria o aniversário de Vinicius de Moraes, 110 anos.

Se ainda estivesse vivo - morreu em 1980 - seria mais de um século de plena poesia, cujo combustível eram os romances sucessivos e uma galeria de mulheres e ex-mulheres a quem ele se dedicou o quanto pode ou não pode. Beatriz e Regina, Lila e Maria Lúcia, Nelita e Cristina, Gessy e Marta Regina, por fim, Gilda Mattoso, a quem ele se referia como "minha viúva", adivinhando que seria a última...e foi.

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Amores à parte, fiquei imaginando como o poeta reagiria à tecnologia avançada que domina nossos dias. Mais que isso, fiquei imaginando como ele reagiria às notícias ruins qua caem como bombas, mesmo quando estamos no sofá de casa assistindo à Smarth TV. Fiquei pensando se hoje ele faria um poema sobre a Faixa de Gaza como fez sobre Hiroshima, com aquele texto de rosas atômicas.

O Rio de Janeiro de Vinicius de Moraes era o Rio da Garota de Ipanema, não o do Comando Vermelho. Ainda era possível sentar-se à calçada com banquinho e violão, sem os tiroteios que têm também (vejam só) a polícia à frente dos desmandos. A Nova York de Vinicius e Tom Jobim não era a dos atentados de 11 de setembro.

O que mais me intriga, é como Vinicius reagiria à inteligência artificial (IA). Talvez se assanhasse com a possibilidade de tratá-la como amante, até mesmo naqueles ataques de machismo que o faziam lamber os lábios quando via mulher bonita pela frente. Presenciei isso, acreditem, num show que ele fez no Teatro Ouro Verde, em Londrina. Era um tipo de assédio comum naquele tempo, juntamente com os assobios na rua, palavrões ou coisa pior. Enfim, coisas de um "romantismo" abusado.

Mas Vinicius trataria a IA como mulher? Teria mais de uma Alexa? Iria se divertir com as garotas virtuais dos serviços bancários? Testaria o ChatGPT para criar um poema? Porque dizem que, hoje, poesia não é mais empecilho para o ChatGPT, parece que a IA já dominou a subjetividade da linguagem e só falta mesmo passar a ter emoções como os humanos. Ainda não testei a subjetividade, mas vou lá, com certeza, pra saber se o programa já consegue escrever como um poeta.

Por ora, fico encantada com o que Vinicius escreveu sem a ajuda da tecnologia, ele que já nasceu com um programa avançado, um software de delicadezas, uma I, sem o A, que era pura sensibilidade à flor da pele. Sua produção, de cerca de 11 mil documentos, foi disponibilizada ao público em 2021 através do Acervo Vinícius de Moraes

Então, vamos ficando com o poetinha de nome no diminutivo para uma enorme capacidade de traduzir a dor e alegria de viver.

A felicidade é como a gota

De orvalho numa pétala de flor

Brilha tranquila

Depois de leve oscila

E cai como uma lágrima de amor

(Vinicius de Moraes)

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* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.