Na quinta-feira (2), o poeta Claudio Willer fez 81 anos. Sagitariano, ele tem uma poesia ensolarada a ser conferida em seis livros dos quais destaco "Jardins da Provocação" (Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, São Paulo, 1981); e "Estranhas Experiências" (Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.). Quem ainda não leu, não teve contato com algumas das melhores páginas da poesia brasileira. Sugiro conexão imediata.

Willer também é autor de livros de Prosa e Ensaios, integra várias coletâneas, tem centenas, se não milhares, de artigos publicados em revistas literárias. Fez palestras pelo Brasil e o mundo, participou de congressos, seminários, rodas de bate-papo. Sua produção está ligada às vertentes mais radicais da literatura como o Surrealismo e a Geração Beat. A propósito, foi ele o tradutor de "Os Cantos de Maldoror", de Lautréamont, no Brasil (Vertente, 1970); "Escritos de Antonin Artaud" (L&PM, 1983); "Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg" (L&PM, 1984, com várias outras edições revistas e ampliadas).

Para falar de toda sua produção falta espaço nos cadernos de cultura, mas é na convivência pessoal, nos cursos que proporciona de forma presencial e on-line, que conhecemos a pessoa humaníssima que se tornou poeta, o mestre paciente que nos deixa atordoados com tantas informações em suas aulas nas principais universidades brasileiras, como a USP e a Unicamp, onde tive o privilégio de estar presente, assim como estive presente em espetáculos de teatro e visitas guiadas por ele em exposições de artes plásticas.

Willer também esteve em Londrina a convite da UEL e do Festival Literário Londrix e fez palestras cintilantes. Fez incursões no teatro, foi homenageado em espetáculos sobre o surrealismo brasileiro, foi tema de filmes sobre sua trajetória. Ele é um artista brasileiro que merece as homenagens que atravessam décadas e , sobretudo, homenagens significativas nos seus 81 anos, pelos quais pode ser celebrado como uma das vozes mais fortes e importantes da literatura brasileira contemporânea.

E para celebrar, não bastam apresentações. É preciso publicar um de seus poemas. Um pouco mais de sua produção cultural pode ser conferida neste blog: https://claudiowiller.wordpress.com/

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. | Foto: Marco Jacobsen

A Verdadeira História do Século XX

contemplação: estrela no fundo do mar
você: véu de gaze azulada roçando, suave apelo
furacão: róseo
perfeição: parábola de perfumes
lâmina: a mente alucinada
gruta: você e os arcanos da natureza
gelo: explosão de relâmpagos
essa solidez, essa presença: capim ao vento
rápidos, passando à frente – lavanda
e também sombra de árvore
montanha inteiramente nossa
intimidade sorridente no calor da tarde
Íris, o nome da flor, o seio ao sol
...
- quanta coisa que você fez que eu visse
...
gnose do redemoinho, foi o que soubemos
o acaso nos transportava e podíamos ir a qualquer lugar
(que vontade de grafitar as paredes do quarto)
...
(Claudio Willer, A Verdadeira História do Século XX, Lisboa, Portugal: Apenas Livros – Cadernos Surrealistas Sempre, 2015; edição brasileira: São Paulo, Córrego, 2016)

...

A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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