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. | Foto: Marco Jacobsen

Não me lembro se era julho ou agosto quando meu pai me disse que haveria uma "chuva de estrelas." Incentivando a cumplicidade entre pai e filha, ele me disse que não contasse a ninguém, mas naquela mesma noite chamei uma prima num canto e relatei: "meu pai disse que haverá uma chuva de estrelas", imitando com as mãos as estrelas caindo. Quando me virei, meu pai, no portão, ria da indiscrição infantil, ele tinha ouvido eu contar o segredo, mas não se importou, divertiu-se, talvez, por a filha acreditar tanto em suas palavras.

Passados mais de 50 anos desde esse "segredo" que espalhei aos primos, leio que nesta semana aconteceu na madrugada de quarta e quinta-feira o fenômeno das Perseidas, a chuva de estrelas que anualmente aparece entre julho e agosto.

Percebo que meu pai tinha toda razão num tempo em que não se falava muito de astronomia nem se desvendava os mistérios dos cosmos, como hoje, com poderosos telescópios e câmeras que viajam no espaço fotografando o que antes era apenas uma hipótese.

Meu pai adorava olhar o céu noturno e apontar constelações e satélites, explicando aos filhos que aquelas luzes que se moviam vagarosamente nos conectavam com as comunicações, por exemplo, num tempo em que a TV era o máximo e o rádio fazia muito sucesso.

Na última quarta-feira, quase todos os sites de notícias informavam sobre as Perseidas, um fenômeno que produz entre 50 a 75 meteoros por hora parecendo mesmo uma chuva feita de outra matéria. Isso acontece todos os anos quando a Terra, em sua rotação, encontra os destroços deixados pela passagem do Swift-Tutle, um cometa descoberto de forma independente por Lewis Swift em 16 de julho de 1862, em Marathon, Nova York, e por Horace Parnell Tuttle, da Universidade Harvard em Cambridge, Massachusetts, em 19 de julho de 1862. Na astronomia, os corpos celestes recebem geralmente os nomes de seus descobridores. Já o nome Perseidas é uma homenagem à constelação de Perseu porque os especialistas acreditam que as estrelas cadentes sejam irradiadas desta constelação.

A "chuva" são restos de poeira e detritos que viajam no espaço há milhares de anos, o receio é que em sua órbita o cometa Swift-Tutle, considerado muito grande, chegue a colidir com a Terra em passagens futuras já que o seu núcleo sólido tem aproximadamente 27 km (16,8 milhas) de extensão, muito maior que os 10 km do suposto asteroide que hipoteticamente dizimou os dinossauros. Entre hipóteses e constatações, a humanidade segue sua trajetória de descobertas e assombros.

Fico pensando na alegria de meu pai se vivesse hoje tendo ao alcance de um clique um universo que se descortina graças à tecnologia e, principalmente, graças à curiosidade infinita de pesquisadores que transformam a vida num verdadeiro espetáculo.