Grande parte dos desejos da humanidade se deve ao tempo, da nostalgia aos sonhos que projetamos para o futuro.

Ontem, hoje e amanhã são partes dessa ideia de tempo, o deus Cronos que impõe respeito e, anárquico, também vira calendários. O tempo é uma criação humana que ajuda a enredar a vida, por isso a passagem de um ano para outro nos coloca em estado de esperança: há sempre o desejo de que venham dias melhores e a soma dos desejos, espalhados pelo mundo inteiro, tornam o Ano Novo uma data especial.

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. | Foto: Marco Jacobsen

Quem não se liga em datas vai dizer que "tanto faz pular de um ano a outro". É fato que às vezes as mudanças não são mesmo profundas, a humanidade continua sua rota de erros e acertos. Mas o fato do calendário virar à meia-noite traz a sensação de reinício ou novidade e quem quer que tenha sonhos não desperdiça a chance de recomeçar, ainda que seja de forma simbólica.

É verdade que isso não modifica as perdas que ficaram para trás, num ano especialmente difícil de pandemia e mortes, como a dor não cicatriza de um dia para outro só porque mudamos a data. Mas é preciso caminhar para um novo horizonte, na vida repleta de perdas e ganhos aos quais estamos todos sujeitos. Assim se lembra o dia em que perdemos os pais, mas também o dia em que ganhamos um filho.

O mistério do tempo é sua passagem que não apaga cicatrizes, mas sopra feridas tornando a dor mais aceitável. Esse é o primeiro mistério do tempo. O segundo é a memória, como algumas presentes nesta edição da Folha 2 para a qual convidamos três autores paranaenses para falar do Ano Novo. Nilson Monteiro, Marco Fabiani e Christine Vianna retomaram suas infâncias, sua poesia, as crônicas da existência para falar de um ano novo ou velho. Um punhado de delicadezas para iniciar 2022 na teia mágica das lembranças e das esperanças.

Nesta virada de ano, que cada um imagine o que quiser para o futuro, sem esquecer que antes mesmo de tudo acontecer somos ideias e projeções. Projetem para suas vidas o melhor possível com menos conflitos e mesquinharias, com mais amor e a paz que pode habitar corações para que o mundo amanheça melhor pelo menos neste dia que marca a sucessão de mais doze meses de vida, trabalho e relacionamentos.

Que os desejos de cada um se somem às nossas melhores lembranças e à esperança que existe para que a gente continue acreditando que no Ano Novo abre-se uma brecha no Cosmos para que afetivamente possamos alcançar a ideia de um novo tempo.

Terminar um ano para começar outro é nossa chance de abandonar as emoções sombrias, os ressentimentos que funcionam apenas como ferrugem da existência. Estamos deixando para trás 365 dias para recomeçar a contagem com um movimento de alegria e o ouro das constelações que se sucedem no céu e em todas as relações humanas.

Feliz Ano Novo!

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