A cada Ano Novo, a humanidade faz uma lista comprida de promessas.

- Ser mais solidário com pais, parentes, amigos e desconhecidos

- Emagrecer 20 quilos

- Trocar a preguiça por atividade física

- Respeitar o desejo da filha de namorar aquele cara (mesmo pensando que "ele não serve para ela")

- Fazer as pazes com o vizinho (querendo intimamente que ele doe o cachorro, sua única companhia)

- Devolver àquele amigo o dinheiro emprestado em 2013

- Não discutir por política (já desejando que o cunhado quebre a cara com seu "eleito")

- Gastar menos, pensando que o meu "a mais" é o "a menos" de quem precisa (e fazendo o inverso)

- Não praguejar contra quem ajuda mendigos na sua porta (pensando que seria bom "evitar moradores de rua na ... sua rua"

Quando chega fevereiro, todos os votos já foram descumpridos e o carnaval nos incita a tentações. Então, a gente deixa de ser solidário, porque "o Natal já passou mesmo", engorda mais 5 quilos, não faz as pazes com o vizinho e discute com o cunhado.

Por isso, este ano, Deus enviou uma carta à humanidade, em vez de só receber os bilhetinhos fajutos de sempre.

Li um trecho, Ele decreta que, depois da meia-noite, do dia 1º de janeiro, todos tomem consciência sobre o mal que a humanidade faz a si mesma, descaradamente.

Pelo que vi da carta, Ele não pede, mas exige, que todos, independentemente de religião, "amem ao próximo como a si mesmos". A começar pela guerra na Ucrânia onde calcula-se - embora Deus vá ainda refazer as contas - que já morreram mais 100 mil soldados russos e mais de 100 mil ucranianos.

Ele também determina que cidadãos, prefeitos e prefeituras não enxotem os moradores de rua para outras cidades nem proíbam a população de dar esmolas para "essa gente desocupada."

Deus também pede às autoridades que não divulguem altos índices de emprego quando, na verdade, Ele sabe - e está anotado no seu caderninho - que a maioria das empresas criadas em 2022 é MEI, numa configuração bem familiar que mal emprega o marido e a mulher, não sobrando nem para o filho ficar no caixa da lojinha onde tem um aviso na porta: "Não há vagas."

Deus também decreta que os médicos de boa vontade atendam a pessoas sem recursos, em vez de só pensar na fama do hospital que "tem tudo" para quem pode pagar.

Deus pede ainda aos políticos que parem de fazer campanhas escusas contra as vacinas, não anunciem remédios inócuos para doenças nem peçam sua fabricação às custas de dinheiro público. Isso não é fazer política, é crime.

Em sua imensa sabedoria, Ele também pede que a humanidade preserve seus recursos naturais: florestas, águas, solo sem tantos pesticidas. Ele avisa que não vai criar, de novo, um planeta tão bonito para ser consumido por quem só enxerga dinheiro no lugar das árvores, ouro no lugar de rios limpos. Explicou também que já está cansado dessa história de extermínio de espécies que Ele criou, com tanto capricho, e da mortandade de peixes.

Por último, argumentou que manter a pureza do ar na Terra é obrigação nossa, não Dele, que já nos deu florestas e pulmões novinhos em folha.

Por último, Deus deseja a todos um Feliz Ano Novo, desde que a humanidade cumpra sua parte, em vez de só prometer.

Que os próximos 365 dias sirvam pra a gente limpar as mentiras, sendo mais verdadeiros.

Feliz Ano Novo!

...

* A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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