A paróquia Santa'Ana, em Londrina, publicou uma belíssima revista sobre a Amazônia evocando o Sínodo deste ano, a ser realizado em outubro, em Roma, e cujo tema é essa região importante para a preservação da vida do planeta. O Sínodo é uma assembleia periódica de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos concernentes à Igreja universal. O tema 'Amazônia' foi escolhido há dois anos, muito antes do Brasil entrar num cenário político que gera tantos equívocos, a ponto de julgarem a luta pelo meio ambiente desnecessária, num exemplo de falta de informação, negação da ciência e da própria realidade.

Sensível à escolha do Sínodo, a ala humanista da igreja de Londrina fez essa edição esclarecendo pontos importantes do tema, incluindo uma entrevista do Papa Francisco falando sobre a escolha do tema do Sínodo em 2018, envolvendo nove países da região amazônica, vejam bem, nove países. Uma lição sobre uma questão profunda e urgente que envolve não só as coisas do céu, mas as coisas da Terra.

Outra pauta é uma análise sobre a Amazônia na conjuntura atual feita por Elve Cenci, professor de Ética e Filosofia Política da UEL, além de um artigo do padre Romão Antônio Martini Martins sobre a visita de missionários londrinenses ao Amapá, num encontro com populações nativas.

Chama ainda a atenção o artigo de Clodomiro Bannwart, também professor de Ética e Filosofia da UEL, que aponta para um aspecto fundamental: "Se é possível inferir o aspecto positivo de o meio ambiente firmar-se como ponto decisivo da sustentabilidade do planeta e do próprio desenvolvimento econômico, há de se exigir que os nossos políticos qualifiquem-se para o debate."

Na minha opinião, o professor Clodomiro toca no ponto essencial: senhores políticos e demais legiões que atrelam a questão ambiental à esquerda, ao petismo e até ao comunismo (sic): qualifiquem-se para o debate! Não se limitem a aplicar rótulos e chavões a uma questão que demanda conhecimento.

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. | Foto: Marco Jacobsen

A questão ambiental não é pauta de esquerda e tampouco da direita. A pauta é humanista. A destruição ambiental hoje, como lembra o Papa Francisco, é "um desvio que pode levar à morte da humanidade." Eis a questão.

No centro e nas bordas de um movimento divisionista, opiniões desprovidas de razão, baseadas no diz que diz de um marketing que rompe a ética das relações entre o homem e a vida na Terra, criam reducionismo ao fazer uso do termo 'ambientalismo radical', sem muitas explicações.

Pergunto, o que é radical: um movimento universal pelo meio ambiente ou a extinção de centenas de espécies? O que é radical: um movimento ambiental amparado pelo Papa ou a ameaça à biodiversidade da Amazônia pelas queimadas e o desmatamento dentro de uma política que acena, adula e clama por mais mineração no Brasil, mesmo depois dos desastres de Mariana e Brumadinho, a partir dos quais famílias ainda não identificaram seus mortos? Ponham-se no lugar dessas pessoas.

O que é mais radical? O movimento ambientalista ou a notícia, desta semana, informando que as queimadas na Amazônia, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, geraram um custo adicional ao SUS de R$1,5 milhão só para atendimento de crianças afetadas com problemas respiratórios? Já pensaram nos seus filhos, sobrinhos e netos num futuro sem florestas e sem água limpa? Até quando a ciência, a pesquisa e a realidade serão desafiadas por correntes que disseminam desinformação? Qualifiquem-se para o debate!

No editorial da revista Ecos de Sant'Ana, o padre Manuel Joaquim Rodrigues dos Santos evoca a responsabilidade nacional e internacional sobre a Amazônia, berço de cerca 2500 espécies, e da bacia hidrográfica de 6 milhões de km e 1.100 afluentes, mostrando que o abate da floresta significa "uma perda maciça de biodiversidade."

Em outras palavras, há uma ala da igreja católica lutando pela vida. Nada mais adequado aos preceitos de Cristo que se solidarizam também com a vida não só dos poderosos, mas dos menos favorecidos. A Amazônia é uma questão ambiental, cultural, política e social de povos originários de nove países. Daí o Sínodo da Amazônia porque o caminho é a VIDA, não é mesmo?

O resto é fantasia ideológica para burlar a verdade protegendo interesses de grupos políticos e econômicos. Um estranho altar!