Há muitas formas de morrer. Alguns morrem felizes, outros contrariados, há mortes esperadas e mortes súbitas, para quem continua vivo é sempre um choque e o estado de luto equivale a soprar uma ferida lentamente, sabendo que ela dói a cada dia.

No último fim de semana, o Brasil ficou em luto com a morte da cantora Marília Mendonça. Através da imprensa ocorreu um "cortejo" nacional que durou cerca de três dias de forma intensa.

Marília partiu prematuramente, aos 26 anos, e a idade é sempre um fator que nos choca ou consola. É como se quiséssemos estabelecer para os mortos uma partida com idade aceitável, perder alguém na casa dos 20 , 30 ou até 50 anos parece cedo demais. Só que Dona Morte não pensa assim e chega sorrateira, conforme sua própria escolha.

As críticas sobre a divulgação da morte de Marília Mendonça foram fortes por causa da onda midiática que tomou o País. Para muitos pareceu exploração que as emissoras de TV e os sites, principalmente, tenham feito uma cobertura em minúcias, desde o local do acidente até o sepultamento.

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. | Foto: Marco Jacobsen

No caso da cantora sertaneja, sabemos que ela amava as multidões, era evidente sua felicidade quando milhares de fãs a recebiam em shows transformados numa grande celebração. Assim, considero que ela teria aprovado a cobertura de sua morte, quem viveu entre muitos deve querer morrer no meio de muitos também. Um cantora do povo deve ter aprovado a despedida que fez dela a pessoa mais comentada e celebrada não só em vida como na morte. É muito tênue o limite entre a homenagem e a exploração que muitos invocam. Nestes casos, devemos mesmo é olhar para o morto, ou melhor, para a vida do morto, para chegar às conclusões sobre cerimônias fúnebres e a repercussão da partida de gente famosa.

Toda esta reflexão tem outro peso quando perdemos alguém muito próximo. Neste caso, não há tempo nem espaço para considerações do que é certo ou errado, o que fica é a dor individual, latente e sofrida muitas vezes silenciosamente, sem plateias, quando nos recolhemos por dias em nossas próprias emoções.

Esta semana, senti essa dor pela partida da amiga Iara Rossini Lessa e do amigo Pedro Wagner, ambos colegas de profissão. Suas ausências ainda doem, porque uma coisa é escrever sobre a partida de uma celebridade, outra é falar de amigos com quem compartilhamos um pedaço importante de nossas vidas. Nestes casos, não há muito consolo nem análises. Fica somente um vazio quando imaginamos que eles não estão mais onde estavámos acostumados a encontrá-los. Nos seus lugares ficam apenas momentos, o último aperto de mão, o beijo de despedida num encontro casual, em dias que nem imaginávamos que não os veríamos mais.

Vivemos a contradição de acharmos que sempre estaremos presentes quando a morte, na verdade, mora na vizinhança. E, quando ela acontece, cada sorriso ou cada gesto banal, como emprestar uma caneta, tomam a dimensão da memória que é para onde se encaminham os nossos afetos quando não têm mais corpo, mas são apenas lembrança tão etérea quanto eterna. O que modela o impacto da morte é nosso amor por quem se foi.

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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