Uma das minhas alegrias é ver o sol nascer quando o verão se aproxima. Em novembro, ele já nasce mais à direita ao leste, sei disso por causa de uma observação comum: ele ilumina um cantinho da minha sala, onde há plantas e, nesta época, coloco ali um vaso de flor só para ver as pétalas atravessadas pela luz.

São práticas que para alguns podem não ter significado, mas mudam meus dias. Tenho uma alegria que vem de momentos felizes, de um quintal na infância, de um jardim na casa dos meus pais que nem sei se existe ainda, onde vi crescer plantas escolhidas e ervas daninhas que a mãe pacientemente arrancava para não atrapalhar as margaridas.

Disso tirei a lição: se alguma coisa atrapalha o crescimento de outra, elimine. Vi isso na prática, no mais simples dos cotidianos, observando meus pais arrancando o que pudesse prejudicar seu canteiro de cenouras.

Por causa deles tenho até hoje uma relação com as coisas da terra e também um olhar para o que acontece em todas as fases da lua, em todos os meses em que o movimento faz o sol nascer aqui ou lá, porque é a terra que gira.

A trajetória do sol durante o dia marca as horas que deram origem aos relógios. E talvez por meu pai ter sido também relojoeiro e um exímio conhecedor de máquinas, o tempo para mim tem uma função cotidiana, mas também a poesia da sucessão dos dias e noites.

A trajetória do sol marca nossa caminhada, os dias que estão à frente e os que ainda vêm, até por isso, é importante celebrar cada minuto, cada nascer e cada pôr do sol. Trata-se do relógio que marca também nosso tempo na terra.

Seguir o sol é coisa muito filosófica, até por isso Platão criou o Mito da Caverna, no qual relaciona a luz ao conhecimento e a ignorância à escuridão daqueles que vivem aprisionados ou iludidos vendo apenas sombras.

O sol foi objeto de adoração de culturas primitivas e no mundo contemporâneo está nas galerias de arte e nas feiras de artesanato. Gosto de ver o sol em madeira ou metal, pintado de amarelo ou em tons avermelhados. Mas não podemos perder de vista o sol real. Este que passa quase despercebido para quem não tem o hábito de olhar pela janela, sair ao ar livre, contemplar a nascente e o poente.

No meu apartamento não tenho a vista que gostaria para acompanhar completamente o sol. Mas sei de seus movimentos pela observação de um canto da sala, onde meu gato se espreguiça quando vai chegando o verão, é ali que a luz vibra de forma diferente, mudando de posição na dança do tempo.

As estações anunciam-se sem calendários, a natureza marca o tempo enquanto houver ciclos a serem respeitados. Não à toa, civilizações trataram o sol como um deus. E isso não é paganismo, é sabedoria e poesia.