A cidade na neblina: uma pequena história de Londrina
A neblina que baixa na cidade em dias frios nos remete à história de seu nome, um indicativo entre a realidade e a ficção
PUBLICAÇÃO
sábado, 29 de julho de 2023
A neblina que baixa na cidade em dias frios nos remete à história de seu nome, um indicativo entre a realidade e a ficção
Celia Musilli

Hoje, Londrina amanheceu com fog. Alguns dizem que isso acontece porque ela é filha de Londres. Uma filha distante, meio bastarda.
Na verdade, Londrina foi colonizada por ingleses, japoneses, árabes, paulistas, mineiros, baianos. Um caldeirão cultural que fez dela uma mulher versátil e atrevida.
Hoje, Londrina amanheceu com fog.
Na avenida que atravessa meu bairro, os motoristas, às 6h30, não enxergam um palmo adiante do nariz. Dirigem pra lá e pra cá como teleguiados. De vez em quando, vê-se uma gaivota, dessas que passam a noite no Lago Igapó, levantar voo levíssimo e, entre a névoa, seu movimento parece uma folha de papel nas alturas.
Eu vi as gaivotas? Não vi? Elas existem?
Londrina amanheceu como uma pintura. Dessas que trazem de barco um capitão pirata. Porque os ingleses eram todos piratas e hoje são fantasmas. Colonizaram a terra, levaram a madeira, e nunca mais se viu qualquer sombra deles por aqui.
Os ingleses vieram? Não vieram? Eles existiram?
O fog de Londrina é o fog da dúvida.
Cenas que desaparecem na neblina.
Nos dias frios, os fantasmas vêm às 6h30. Até que o sol nasce, dissipando a umidade que se levanta das matas. Então, concluímos que Londrina não tem fog. Tem uma cerração tropical - que nos põe entre o sonho e a realidade - e me faz bater com a cabeça na vidraça.
E dá um medo danado de ter acordado no paraíso.

