Imagem ilustrativa da imagem Um mau filme para uma grande atriz
| Foto: Melinda Sue Gordonn/Netflix/Divulgação

Quem quiser correr o risco, relaxe à vontade. “A Mulher na Janela” (The Woman in the Window", EUA, 2019/20, disponível em Netflix)) é uma prova da qualidade inabalável de Amy Adams, e única razão para passar pelo crivo da recomendação. Independentemente dos mais variados obstáculos ao seu redor, das decisões estilísticas questionáveis ​​e do colapso progressivo do roteiro, é ela quem permanece firme e forte em suas tentativas (fúteis, é bem verdade) de transformar o entulho narrativo em metal precioso.

Amy interpreta Anna Fox, psicóloga infantil portadora de agorafobia que vive em auto-reclusão em sua enorme casa em Nova York, bebendo vinho, tomando pílulas diversas e revendo clássicos do cinema. A paranoia que carrega é fruto do isolamento. Carrega também um segredo que a narrativa, claro, deixará bem lá para o final.

Com um elenco atraente, o roteirista Tracy Letts (que também interpreta o psiquiatra de Anna) adaptou o best-seller homônimo, e o até então confiável britânico Joe Wright(“Orgulho e Preconceito”, “O Destino de Uma Nação”) foi chamado para dirigir. Em vista dessas credenciais, "The Woman in the Window" parecia ter a receita para ser bem bem-sucedido, mas o produto final é uma comédia de exageros e ideias mal desenvolvidas.

É um thriller fracassado cuja produção foi atormentada por atrasos, reescritas de roteiro e filmagens adicionais. O filme tenta ser ousado, mas funciona mais ou menos como um produto dos anos 1990, quando enquadramentos insípidos e decisões estilísticas carregam o espectador para longe do suspense. Quando Jane está sendo assassinada, por exemplo, manchas de sangue respingam nas lentes no mais puro estilo de filmes B. Esses momentos de exasperação teatral ferem a humanidade da protagonista.

A fotografia do francês Bruno Delbonnel funciona como ferramenta claustrofóbica e desorientadora, aproximando o filme de seu objetivo de questionar sobre a autenticidade das afirmações de Anna. No entanto, a inconsistência de tom e os acontecimentos triviais empalidecem o aspecto psicológico da história.

Vamos reforçar a obviedade: o patchwork de retalhos hitchcockianos, de Brian De Palma e de Polanski cobrem boa parte da duração dos 100 minutos. Não bastasse a referência inicial explícita do fotograma congelado de James Stewart sendo atacado (só as mãos do assassino Raymond Burr aparecem), o filme rouba até mesmo os cenários da “Janela Indiscreta” de Hitchcock . Um roubo à luz do dia...

A agorafobia de Anna é rapidamente esquecida, eliminando uma potencial fonte de tensão. O clímax cai no ridículo, e a trilha de Danny Elfman, o alter ego musical de Tim Burton, pouco ajuda com sua partitura absurda e exagerada, onde o desperdício de violinos diminui a intensidade e aproxima a cena de uma paródia.

E, então, afinal, estamos de volta aos esforços de Amy Adams. Sobrecarregada por todos os lados, ela mostra vulnerabilidade sem perder o controle e tenta aproximar o espectador do caos psicológico que Anna está atravessando. Mesmo que seu trabalho insano seja limitado por um roteiro que tentar tirar credibilidade de seu personagem e reduzir sua saúde mental a um veículo de zombaria.

“A Mulher na Janela” poderia ter sido a tomografia de um trauma. Os elementos estavam ali para explorar o potencial ou minimizar o talento de Amy Adams, mas Wright optou por um clichê de Hollywood, sem substância e sem uma visão estabelecida.

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