Oscar: mais uma aposta decisiva em busca do público perdido
A divulgação de indicações refletiu amplamente o estado confuso de Hollywood
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023
A divulgação de indicações refletiu amplamente o estado confuso de Hollywood
Carlos Eduardo Loureço Jorge/ Especial para a FOLHA
No ano recém encerrado, em que os espectadores se voltaram em massa para espetáculos de grande orçamento – e esnobaram quase todo o resto –, os eleitores da Academia de Hollywood fragmentaram as nominações de forma notável. Três sucessos de bilheteria receberam a melhor indicação de filme, oito filmes receberam pelo menos cinco indicações e os nominados pela primeira vez preencheram 16 das 20 vagas de interpretação.
"É um grupo amplo e emocionante, e é prova de uma academia em mudança para sobreviver", disse Gail Berman, produtora de "Elvis", que recebeu oito indicações, incluindo uma de melhor filme. Baz Luhrmann, o diretor do filme, foi direto: “Estou particularmente emocionado por haver filmes populistas como o nosso lá. Eles são grandes, divertidos, e lembram às pessoas que elas querem e amam voltar às salas de cinema”.
O universo “Everything Everywhere All at Once” (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) teve o maior número de indicações, com 11, incluindo as de melhor filme, atriz (Michelle Yeoh), atriz coadjuvante (Stephanie Hsu), ator coadjuvante (Ke Huy Quan) e diretor (Daniel Kwan e Daniel Scheinert). O extraordinario “Os Banshees de Inisherin”, comédia dramática de humor negro sobre o fim de uma amizade desgastada, e o drama de guerra “Sem Novidade no Front”, versão alemã, tiveram nove indicações cada, entre elas para a categoria de melhor filme.
As sequências de grande sucesso, "Top Gun: Maverick" e "Avatar, o Caminho da Agua”, ambos com um total de 3,5 bilhões de dólares em vendas de ingressos em todo o mundo, também estão disputando o Oscar de melhor filme. Um drama ultrassofisticado (“Tár”), uma notável peça de memorabília de Steven Spielberg (“Os Fabelmans”), um drama de agressão sexual ambientado em comunidade religiosa isolada (“Women Talking”) e uma sátira dos ricos realizada por um premiado cineasta sueco (“Triângulo da Tristeza”, Palma de Ouro em Cannes-22) preencheram a lista da categoria.
De certa forma, a divulgação de indicações refletiu amplamente o estado confuso de Hollywood. Ninguém na capital do cinema parece saber o que vai acontecer, com serviços de streaming mais ou menos quentes como Netflix, e estúdios incertos sobre quantos filmes lançar nos cinemas, e se algo além de super-heróis, sequências e histórias de terror podem ter sucesso.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com cerca de 10 mil membros, também trabalhou para diversificar suas fileiras por gênero, raça e nacionalidade. A inclusão de vários sucessos de bilheteria pode sinalizar que os membros votantes finalmente decidiram ajudar o Oscar, ampliando uma melhor abertura da imagem da festa de premiação e badalações de entorno. A partir de 2009, os líderes da academia expandiram o grupo de indicados de cinco para dez. O público da cerimônia estava sumindo, e mais vagas abririam espaço para uma gama mais ampla de filmes, inclusive esses populistas da edição de 12 de março próximo, ou assim esperavam os diretores da academia. A maioria dos eleitores apenas dobrou a aposta em filmes de arte pouco vistos.
A programação exibida pela tevê em 2022 atraiu 16,6 milhões de telespectadores, o segundo pior ibope já registrado após a transmissão de 2021, afetada pela pandemia. Se as avaliações estatísticas da Nielsen, a mais confiável empresa de medição de audiencia, não melhorarem, a academia enfrentará um precipício financeiro: a maior parte de sua receita vem da venda dos direitos de transmissão do programa. Centenas de milhões de dólares estão em jogo.