Os nórdicos que amam as séries policiais (II)
Solidez estética, claustrofobia, crítica social e roupa de frio estão nas séries psicológicas dos países nórdicos
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Solidez estética, claustrofobia, crítica social e roupa de frio estão nas séries psicológicas dos países nórdicos
Carlos Eduardo Lourenço Jorge
Mas que paixão é essa dos nórdicos por assassinos sórdidos, detetives psicologicamente abalados por ansiedades, angustias, desconsolos e aflições, metidos em tramas criminosas hediondamente rebuscadas? Na origem das questões ligadas a conflitos de natureza humana, os principais culpados são os autores Stieg Larsson, Henning Mankell e Jo Nesbø, responsáveis literários pela bem sucedida ficção policial produzida na Escandinávia e que deu origem à expressão “nordic noir” ou “scandi noir” a fonte seminal das histórias levadas à tela. E aviso aos seriéfilos (detestável neologismo...): o debito das tevês nórdicas para com “Millenium: Os Homens que não Amavam às Mulheres” é infinito, é como tudo tivesse se originado ali.
Solidez estética, via de regra enfatizando a claustrofobia, crítica social e... roupa de frio. Muita roupa de frio. O quinteto Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e Islândia tem demonstrado que também pode produzir televisão muito boa, e graças a seus intrincados romances de intrigas, neve e personagens moralmente retorcidos, cada vez mais turistas desembarcam na Escandinávia atrás de pistas para a resolução de crimes escabrosos à luz furta-cor da aurora boreal. Especulando: talvez seja uma forma de catarse nacional lá deles, sei lá, mas o que importa é que realizaram trabalhos de fato muito bons e que exportaram para todos os cantos uma maneira muito própria de fazer gênero noir – às vezes até parece que foram os inventores, acrescentando ainda altas doses de perversidade.
Há mais de uma dúzia de títulos recomendáveis e disponíveis, a maioria a partir da segunda década do século. “Deadwind”, “Borderliner”, “The Bridge”, “Trapped”, ‘Bordertown” e “O Assassino de Valhalla”, alem de outros, ainda estão nos catálogos das opções em streaming. Entre as vantagens, uma duração em media mais curta, sem os alongamentos que acabam desqualificando as propostas viam de regra inteligentes e instigantes. E que passam ao largo dos tradicionais vikings e da mitologia nórdica. Os idiomas, os nomes os personagens e as locações podem causar estranheza de início, mas as intrigas são boas demais para sentir saudades de artefatos similares hollywodianos. Ou mesmo de melhor calibragem, como os ingleses.