Nos anos 1940, Jean-Paul Sartre escreveu a peça “Huis Clos” (o título em português foi “Entre Quatro Paredes”). Um só cenário e várias pessoas encurraladas dando vazão a seus instintos, revelando sua verdadeira natureza. E o termo' huis clos' acabou sendo utilizado para referir-se a filmes de atmosfera opressiva em que os personagens se encontram prisioneiras no enquadramento – em duplo sentido: dentro da moldura da imagem e em determinado contexto, ambiente ou circunstância.

A maioria dos títulos que abordam esta espécie de prisão pertencem ao gênero do terror ou ao thriller psicológico e, apesar de revelar muitos dos fantasmas que nos atormentam como sociedade, também se convertem em metáforas sobre a luta pela sobrevivência e contra a adversidade. Há uma infinidade de abordagens ao este tipo de “cinema de confinamento”, mas aqui a proposta busca a seletividade, algo próximo do imprescindível para sentir com mais acuidade estes estranhos tempos de clausura. A seguir, algumas indicações para a prospecção dos interessados, cinéfilos ou não, prospecção que passa pelo fluxo de plataformas conhecidas, algumas mais populares, outras menos. Alguns títulos listados a seguir vale a peregrinação por outras vias de acesso às insuspeitadas galáxias da web.

1. A Hora Final, 1957 - Um confinamento não tem que ser sempre entre as quatro paredes de uma casa ou um refúgio nuclear. Neste drama apocalíptico de Stanley Kramer, a 3ª Guerra Mundial exterminou a vida no hemisfério norte. Um grupo de sobreviventes australianos espera, cada um à sua maneira, a morte por radiatividade. Obre referencial com elenco luxuoso (Ava Gardner, Gregory Peck, Anthony Perkins, Fred Astaire. Em preto e branco, e nem podia ser de outra forma. Lançado em Londrina pelo Cine Londrina em fins da década de 50.

2 . O Iluminado, 1980 - Um dos filmes-chave para entender o terror contemporâneo, mesmo que Stephen King morra esperneando. Um sem número de imagens-referência que se incrustaram no imaginário coletivo. Deu origem a várias teorias que tentam ainda hoje, quarenta anos depois, explicar como Stanley Kubrick deu identidade fílmica ao medo e à loucura. Kubrick isola a família Torrance no Hotel Overlock onde os fantasmas adquirem forma física provocando uma psicose que vai do abstrato ao físico e nos adentra num labirinto dos horrores mais primários. Há o espírito possuído de Jack Nicholson, claro, que assombrou o Natal londrinense de 1980, no Ouro Verde.

3. O Enigma de Outro Mundo - 1982. Mais conhecido pela cinefilia como “The Thing” (A Coisa), a refilmagem de John Carpenter de um clássico da FC de 1951 é hoje indiscutível cult que, quando lançado, foi imediatamente posto de quarentena pela crítica, que não poupou desprezo e descrédito. Cientistas de estação científica na Antártida são atacados por alienígena que toma a identidade que quiser. Arrepiante terror glacial, literalmente sem saída. Outro lançamento no Ouro Verde, na época só sala de exibição.

4. O Quarto do Pânico, 2002 - O diretor David Fincher executou todo seu virtuosismo cênico neste thriller hitchcockiano de suspense (redundância? pois ela vale em cada sequência ) em que uma mãe recentemente divorciada (Jodie Foster) e sua filha (Kristen Stewart) se escondem em uma casa blindada em Manhattan quando são ameaçadas por ladrões. Fincher sabe como usar todas as ferramentas a seu alcance, através de um arsenal de recursos estilísticos , para armar um jogo de gato e rato que se converte em experiência angustiante.

5 – O Nevoeiro, 2007 - Adaptação da novela curta homônima de Stephen King, “The Mist” oferece um dos finais mais dramáticos e insuportáveis que se possa imaginar. Mas até chegar lá, relata a história de um grupo de pessoas que se refugia num supermercado ameaçadas por espantosas criaturas, surgidas em meio a um espesso nevoeiro. Um desalentador estudo sobre o medo diante do desconhecido, mas sobretudo acerca da miséria do ser humano.