Como todos já sabem há um bom tempo (ou deveriam saber), nada está sendo normal este ano. E os festivais de cinema não seriam exceção. Cannes por exemplo: seu diretor Thierry Fremaux ensaiou marchas e contramarchas, chorou, rangeu dentes e acabou jogando a toalha em maio, seu mês histórico. Preferiu não acontecer fisicamente, depois descartou a opção online, e criou um timbre de “nobreza” para que vários filmes de sua seleção 2020 fossem vistos e reconhecidos virtualmente, além de buscar parceria com outros festivais internacionais para promovê-los. Cá entre nós, acompanhei a oferta, vi on-line uma dezena deles, e a seleção não foi daquelas inesquecíveis.

O Leão de Veneza continuará a rugir na edição que começa no próximo dia 2 de setembro
O Leão de Veneza continuará a rugir na edição que começa no próximo dia 2 de setembro | Foto: Reprodução

O certame internacional de Locarno, o suíço-italiano de agosto (5 a 15), foi o segundo grande a provar o amargo clima desta instabilidade. Canceladas por razões óbvias as majestosas projeções públicas diárias na Piazza Grande, noturnas , a seu aberto e para multidão, acabou numa edição mista, presencial/on-line, batizada de “For the Future of the Films”. Os tradicionais prêmios Leopardo de Ouro e de Prata foram atribuídos um primeiro prêmio para duas mulheres: a argentina Lucrecia Martel pelo documentário político "Chocobar", e a suíça Marí Alessandrini por “Zahorí”, também ambientado na Argentina.

Depois de marchas e contra-marchas, Veneza optou por uma edição virtual este ano
Depois de marchas e contra-marchas, Veneza optou por uma edição virtual este ano | Foto: Reprodução

Na próxima quarta-feira (2 de setembro) começa o mais antigo festival do planeta, a 77ª Mostra Internazionale d’Arte Cinematográfica de Veneza. Projetada desde o primeiro semestre como evento presencial, o diretor artístico Alberto Barbera deu seguimento a um plano arrojado num dos mais devastadores cenários da pandemia na Europa, a região do Veneto. Ninguém pode negar coragem à decisão de realizar o festival nas datas estipuladas, com a mesma duração (termina 12/9) e na presença de realizadores, técnicos e público. O programa desta edição contém uma infinidade de gêneros e perspectivas. Os filmes selecionados (creio que mais convidados do que selecionados.) são em número consistente, apenas um pouco menos do que as tradicionais propostas venezianas. Embora mais discreto, está mantido o tapete antes das sessões. As quais, informa a programação (www.labienale.org), foram multiplicadas em salas e horários , para atender ao público com os protocolos necessários. Previstas badalações com Leões de Ouro pela carreira, entre elas a de Tilda Swinton.

Mais dois grandes em setembro. San Sebastian e Toronto. O primeiro, apesar da fragilidade espanhola, e depois de vários adiamentos, será presencial a exemplo de Veneza. A seleção oficial está pronta e foi revelada em julho, inclusive com cinco títulos chancelados por Cannes. França, Dinamarca, Japão e, claro, Espanha, estão entre os candidatos à Concha de Ouro. A edição física começa dia 18 com a estreia mundial do mais recente Woody Allen, “Rifkin’s Festival”, filmado em San Sebastian no verão passado. Na realidade pós-lockdown, o numero de filmes foi reduzido em 30%: mas todas as seções foram mantidas, embora com capacidade das salas rigorosamente policiadas.

O TIFF – Toronto International Film Festival (www.tiff.net) , de 10 a 19 de setembro, já teve 300 filmes em exibição espalhados por salas em toda a cidade. Desta vez, a flexibilização da quarentena canadense vai possibilitar a exibição presencial em salas somente durante cinco dias. O evento terá formato hibrido com sessões digitais e destaque para documentários, informado online. Não haverá o tapete (lá é laranja), para evitar aglomerações. O estado de Ontário está no momento na fase 3 de reabertura, o que pode significar retomada de atividades com as devidas medidas de segurança para a frequência do público.