O carisma de Will Smith, à frente de um time com nomes como Samuel L. Jackson, Mahershala Ali, Diane Lane, Joseph Gordon-Levitt, Bobby Canavalle, Larry Wilmore, Aja Naomi Kin, Graham Greene e outros, além de um elenco paralelo de “schollars”, trabalham de forma marcadamente didática em cima do significado histórico da emenda e justificam plenamente porque vale a pena falar sobre ela por seis horas, especialmente nesses tempos de pandemias reais e metafóricas
O carisma de Will Smith, à frente de um time com nomes como Samuel L. Jackson, Mahershala Ali, Diane Lane, Joseph Gordon-Levitt, Bobby Canavalle, Larry Wilmore, Aja Naomi Kin, Graham Greene e outros, além de um elenco paralelo de “schollars”, trabalham de forma marcadamente didática em cima do significado histórico da emenda e justificam plenamente porque vale a pena falar sobre ela por seis horas, especialmente nesses tempos de pandemias reais e metafóricas | Foto: Divulgação


“Toda pessoa nascida ou naturalizada nos Estados Unidos, e sujeita à sua jurisdição, será cidadã dos Estados Unidos e do estado em que reside. Nenhum estado deve aprovar ou fazer cumprir qualquer lei que restrinja os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos; nem qualquer estado privará qualquer pessoa de sua vida, sua liberdade ou seus bens, sem o devido processo legal, nem negará a ninguém, dentro de sua jurisdição, a igual proteção das leis.”

Esta declaração corresponde à 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Não é a mais popular, nem uma daquelas que se ouve em filmes hollywoodianos ou em alguma série de advogados quando os acusados invocam algum tipo de artifício para não dar testemunho. De qualquer maneira, todos estão onde estão ou agem desta ou daquela maneira graças a esta emenda. É aquela que diz que todos são iguais, que ninguém está acima de ninguém e que qualquer cidadão estadunidense, pelo simples fato de ter nascido ali, tem os mesmos direitos.

A14ª (vamos chamá-la só assim, de agora em diante) está, como a serie afirma, no centro da promessa da América, e ela é a cereja do bolo constitucional que concedeu direitos e cidadania aos ex-escravos. Claro, nunca foi simples assim, e qualquer um seria insano se sugerisse que o caminho para a igualdade seria sempre uma via direta. Ele, o caminho, de muitas maneiras ainda está serpenteando por um país que não se cansa de enchê-lo de obstáculos. Por isso também é que a Netflix, que não é boba nem nada, armou um esquema poderoso, com pesos-pesados capazes de motivar seus 300 milhões de assinantes. O carisma de Will Smith, à frente de um time com nomes como Samuel L. Jackson, Mahershala Ali, Diane Lane, Joseph Gordon-Levitt, Bobby Canavalle, Larry Wilmore, Aja Naomi Kin, Graham Greene e outros, além de um elenco paralelo de “schollars”, trabalham de forma marcadamente didática em cima do significado histórico da emenda e justificam plenamente porque vale a pena falar sobre ela por seis horas, especialmente nesses tempos de pandemias reais e metafóricas.

A farta documentação legal chega bastante palatável ao espectador através de textos e batalhas jurídicas, de trechos de documentos históricos que datam da ratificação da 14ª em 1868, de valiosíssimo material iconográfico (fotos, filmes de época e vídeos). E por que este material torna-se tão necessário e atual? Para um indivíduo de mente aberta (sobre) vivendo em 2021, parece um descomunal absurdo que pessoas de cor, mulheres, pessoas LGBTQ e os que nasceram em país diferente e se mudaram para outro lugar por razões quase sempre alheias a eles, tivessem que lutar tão incessantemente e com tanta coragem e determinação apenas para serem tratados como humanos. Isso justifica, e muito, uma docussérie como “Amend: The Fight of America”.

Este minicurso essencial de democracia, com data de validade perene, é um lembrete acima de tudo de que a luta foi travada nas ruas e em tribunais desde a Guerra Civil, e continua até hoje, sempre deixando rastros de sangue. Do líder abolicionista Frederick Douglass – há dois anos Spike Lee anunciou um longa sobre este notável e pouco conhecido personagem do grande público – a juíza Ruth Bader Ginsburg e Jim Obergefell (quem apelou à Suprema Corte pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo), chegando a movimentos como #MeToo e Black Lives Matter – essas as linhas de frente em constante evolução da batalha pela igualdade. Há uma abundância de legalidade jurídica (vale a redundância), árida às vezes, em “Amend: The Fight of America”. Mas o argumento essencial do discurso como um todo é compreensível e estimulante para todas as plateias.