Vou visitar o Senai com o neto adolescente, em quem afloram várias tec habilidades, para ele ver se acha algum curso motivador - sem esperar, porém, que ache caminho para a vida, a julgar pelas suas efêmeras paixões recentes. Já estudou violoncelo. Foi apaixonado por pipas a ponto de querer empinar em dia chuvoso. Tenta fazer música eletrônica. Treinou muay thai, passou para corridas. Apaixonou-se por ciclismo, depois por esqueite, seu atual meio de transporte.

Imagem ilustrativa da imagem Vocações e destinações
| Foto: iStock

Mas porque lhe apresentar o Senai em vez de lhe apontar uma futura Engenharia? Primeiro, porque ele não parece o tipo que suportaria anos de aulas para se tornar doutor, parece mais com vocação para empreendedor, que não exige diploma superior (e há muito diploma que não vai pra parede mas pra gaveta, além de que deve ganhar mais é quem sabe usar bem qualquer diploma).

Então acodem várias lembranças. Meu cunhado Eduardo, menino, jogava tão bem que ganhava as búricas de toda a molecada, rapelava, enchia o embornal. Depois vendia as mesmas búricas de volta baratinho, de modo que ganhava para brincar. Virou empresário de transportes e trabalha rindo, por gostar do que faz, o trabalho lhe é uma grande brincadeira levada a sério.

Lembro também de vários ex-seminaristas, daquele tempo em que a família decidia qual filho seria destinado ao serviço de Deus. Antes da sagração ou depois, diante da carência de vocação, deixaram a batina e foram enfrentar a vida longe da saia da madre Igreja, agradecidos porém pela educação recebida. Mas, mesmo entre esse grupo bem preparado, uns se deram bem na vida, outros nem tanto, não só profissionalmente como, digamos, felicitariamente. Uns fizeram família feliz, outros cultivaram neuras e solidão.

Há os que dizem ser a vida uma estrada, os que sempre falam em seguir em frente, ou os que falam que vão levando, assim como que acrescentando carga à viagem... Para outros, a vida é uma escada, onde galgamos posições, até chegar ao ponto de poder dizer “a esta altura da vida”... Há também quem ache a vida um calvário e por isso se dispõe a sofrer, crendo que assim garante já o Céu.

É o destino de cada um, dirá o conformado. Com luta, dirá o revoltado, o destino pode ser mudado. E também há quem não se conforma mas também não luta, assim atestando a variedade própria dos humanos.

É o destino? Mas não será o destino a mistura do que a gente faz da vida com o que a vida faz com a gente?

Vocação forte é uma bênção, quando desde criancinha já se mostra o que quer ser ou fazer. Na adolescência entretanto, quando as habilidades afloram como também as espinhas, não se sabe quais talentos ou gostos serão permanentes, quais serão passageiros.

E, afinal, a vida pode não ser escada nem estrada mas uma fonte, a correr mais aqui, menos ali, em corredeira rápida mais adiante, enfim remanso a caminho do mar.

Assim, mostro ao neto tudo que possa, e ele escolherá os caminhos do seu destino. Só espero que seja feliz. Pois, decerto desde quando a tecnologia era bater pedras para fazer fogo, ser feliz é o melhor dos destinos, não é?

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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