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O melhor de ler antropologia - o estudo dos seres humanos desde o corpo até a civilização - é se surpreender com nossa evolução.

Outros também evoluíram espantosamente, como os cavalos, que se originaram na América há uns 40 milhões de anos, como bichos ainda pequenos, e se espalharam pelo planeta mas na América se extinguiram. Os cavalos que a gente vê nos filmes de faroeste vieram todos de caravelas espanholas, daí escapando para os campos e se multiplicando.

Enquanto isso, as baleias também evoluíram inacreditavelmente, deixando de ter dedos e de hibridamente viver a beira-mar, para ir viver no mar. Batem a cauda para cima e para baixo, não para os lados como os peixes, como a dizer que são mamíferas, condenadas a viver no mar mas a sempre ter de subir para respirar. Algumas chegam a 180 toneladas, o maior bicho do planeta, apesar de não terem dentes, sendo porém o bicho que mais come, ou melhor, suga água e cardumes.

Mas nossa evolução ganha de qualquer outra. Há apenas quatro milhões de anos, éramos ainda meio quadrúpedes, vivendo entre as árvores e o solo, e começamos a precisar de pés adaptados para comer de cócoras, além de assim livrar as mãos de segurar galhos. Em alguns milhões de anos os pés se aparelharam com muitos ossos e as mãos ganharam muitas habilidades. Antes do primeiro passo entretanto, cogitam os antropólogos, foi preciso por-se em pé, como se vê noutras espécies, dos ratos aos tamanduás, para enxergar longe ou alcançar frutos altos.

Alguns antropólogos aventam também que botar-se em pé foi coisa de machos, para exibir o pênis, enquanto muitos acreditam que nos tornamos bípedes para carregar alimentos, lenha, pedras e tudo mais que fomos coletando - tanto que nosso estágio seguinte foi viver como coletadores nômades, feito formigas sem formigueiro.

Então as mãos, livres do chão, evoluíram junto com o cérebro em sinergia, ele criando ferramentas para elas, elas trazendo experiências para ele, que crescendo obrigou o crânio a dobrar de tamanho mais depressa que qualquer outra espécie. Somos os campeões no planeta em tamanho de cérebro comparado ao peso do corpo: aquela baita baleia de 180 toneladas tem cérebro de apenas 10 quilos, e nós temos mais de quilo de miolos num corpo de 80 quilos, portanto bípedes cerebrais, capazes de tantas maravilhas e tantas horrorezas.

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Mas não esqueçamos que, entre a posição quadrúpede e a bípede, há outra muito humana: sentados, como escrevo esta crônica. Na paz os reis sentavam no trono, na guerra sentavam nos cavalos, e os astronautas vão para o espaço sentados. Somos no planeta o ser que mais senta, seja para comer, conversar ou fazer o que os anos passam a pedir, descansar. E vemos que as tecnologias são quase todas e sempre operadas por gente sentada. Aliás, Hemingway escrevia os trechos de narração sentado, os diálogos em pé, não que isso fosse sinal de evolução, talvez só de esquisitice. Mas deve ser como outros bípedes nos veem, uns bichos esquisitos.