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. | Foto: Eduardo ferreira Mendes/ Divulgação

Quando em 1975 a família de Dalva, minha mulher, mudou do distrito Selva para o bairro Ouro Branco, em Londrina, as estradas eram de terra, quando chovia as ruas eram de barro, quando esteava o poeirão pousava nas roupas no varal. Dalva tinha nove anos quando a mãe disse que ela passaria a lavar a louça, e (sem nunca ter ouvido falar de feminismo) ela retrucou que lavava sim se um irmão enxugasse e outro guardasse. Antonio e Eduardo começaram a trabalhar com 11 e 12 anos no nascente Iapar, selecionando café nas férias escolares, com funcionário vizinho da família responsável pelos menores.

A mãe, dona Lúcia, com o marido desempregado, para terem comida na mesa passou a costurar (“para fora”, porque as roupas de casa já costurava desde sempre). “Minha mãe”, conta ela, “ensinava toda filha a costurar a partir dos doze anos, e isso me valeu na hora em que mais precisei”.

O rapazola Eduardo então fez em baixo-relevo, como aprendeu na Guarda Mirim, a placa “Lúcia costureira” que hoje está no escritório de sua empresa. Ela fazia vestidos de noiva para uma loja no centro, e perderia muito tempo fazendo as entregas, então Dalva mocinha ia levar de ônibus, passando por baixo da roleta para não pagar, enquanto o cobrador cooperava segurando os vestidos.

Como sempre, enquanto isso, dona Lúcia continuava fazendo todos os serviços domésticos: “Limpava a casa, cozinhava, lavava roupa no tanque e passava com ferro elétrico, dando graças por não ter mais de usar ferro a brasa como minha mãe”.

Aos treze anos, Dalva resolveu procurar emprego de porta em porta no comércio, sem saber o que dizer quando perguntavam o que sabia fazer; até que, num açougue, respondeu que não sabia lidar com carnes “mas garanto que aprendo logo”, conseguindo o primeiro emprego. Aos dezoito, foi ser balconista na Americanas e logo chegou a gerente, depois tornou-se empresária de treinamentos, ou seja, de trabalho.

Os irmãos, inclusive o caçula Vitor Hugo, trabalharam desde meninos, já mais por querer que por precisar. Conforme dona Lúcia, “nunca precisei mandar filho meu trabalhar, ao contrário, sempre tiveram tanta ânsia de trabalho que eu precisava dizer para trabalharem menos”. Os quatro cursaram UEL mas, de tanto trabalhar, só Eduardo e Vitor conseguiram se formar. Antonio porém fez carreira na Embrapa, e Eduardo também se tornou empresário. Dona Lúcia hoje vê como evolução o Estatuto do Menor, lembrando que “se existisse naquele tempo, eu acabaria presa”...

Já eu creio que o trabalho familiar ainda pode ensinar muito aos jovens de hoje, para não serem como eu que, criado em redoma doméstica, só já trintão aprendi a cozinhar ao menos o básico. Por isso, aqui em casa, neto de visita arruma cama, não deixa roupa largada, varre chão e lava louça. Brincar é bom mas depois guarde os brinquedos. Cresça com a gentileza de botar a mesa. Te apresento a maior educação, meu neto, chama-se cooperação.