Aos cinco anos, ele soube que não seria mais uma criança e sim futuro Imperador do Brasil, portanto precisava se preparar - e se habituou para vida afora levantar às sete e só deitar depois da meia-noite, sempre estudando, depois de sempre cumprir todas as tarefas oficiais do dia e, nas horas vagas, lendo ciências ou estudando línguas. Escreveria e falaria doze idiomas.

Aceitou ser imperador aos 14 para unificar um país em desagregação, e do primeiro ao último dia de 58 anos de poder, nunca deixou de cumprir suas obrigações com humildade e dedicação.

Cultor da simplicidade, passou a vida cortando os gastos com sua monarquia, que eram 3% do orçamento em 1840 e, em 1889, apenas 0,5%. Pois dizia: “Despesa inútil é furto à Nação!” E custeava do próprio bolso bolsas de estudo para brasileiros na Europa.

Para estimular a leitura, posava para retratos com livro nas mãos. Mas, herói popular da Guerra do Paraguai, onde cavalgou na linha de tiro, recusou uma grande estátua equestre no Rio de Janeiro, mandou fazer escola em vez de estátua.

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. | Foto: Reprodução

Em dois dias de audiências públicas por semana, ouvia atentamente até escravos, providenciando toda solução justa e possível.

Nunca teve escravos e sempre deixou claro que, por ele, a escravidão devia acabar. Maior riqueza da nação, a cafeicultura vivia da escravatura, mas em 1850 ele ameaçou renunciar se o tráfico de escravos não fosse abolido, e ganhou a parada.

Para sustar a fonte interna de novos escravos, insistiu pela Lei do Ventre Livre de 1871. Assim, a escravidão já caminhava para a extinção quando ele foi viajar pela Europa, deixando para a filha Isabel a Abolição.

Por onde passava encantava a imprensa com sua cultura e cavalheirismo, seus quase dois metros de altura e sua voz infantil, conquistando respeito mundial.

Em viagem aos Estados Unidos, já seria aclamado como exemplo de governante, sempre a conciliar sua monarquia com parlamentarismo político para prosperidade da nação.

Inovador, na Grande Exposição dos Estados Unidos viu um invento ignorado - mas falou pelo telefone com o inventor Graham Bell, daí todos se interessaram – e logo ele teria no Brasil alguns dos primeiros telefones do mundo. Também foi o primeiro fotógrafo brasileiro, deixando acervo de 25 mil fotos na Biblioteca Nacional.

Andava sem escolta. Ficou famosa a resposta de alguém a um oficial inglês estranhando um imperador andar sem segurança: “Os guarda-costas dele são todo o povo do Brasil”.

Quando uma revolta apenas militar proclamou a República, o Império não era popular mas ele era e podia ter resistido, mas preferiu aceitar o fim da sua monarquia, até porque ter perdido seus dois filhos sucessores. Partiu para um pobre exílio, mas com posturas tão nobres que ganharia ainda mais respeito e admiração.

Pegou pneumonia por passear no frio em carruagem aberta. Suas últimas palavras: “Deus me conceda estes últimos desejos: paz e prosperidade para o Brasil”. E no caixão levou seu pacote com terra de todo o país.

A seu cortejo fúnebre em Paris, bancado com toda pompa pela França, compareceram 300 mil pessoas, até hoje a maior homenagem a um brasileiro. Afinal, era alguém de quem Darwin escreveu: “O Imperador do Brasil faz tanto pela ciência do mundo que todo sábio deve lhe demonstrar o mais completo respeito”.

Jamais levantava a voz mas jamais admitia desrespeito, como jamais dizia impropriedades, com autoridade e equilíbrio sempre, sabendo que uma coisa resulta da outra.

Então sempre que alguém falar mal de políticos, podemos dizer que podia ser pior, podíamos não ter o exemplo de Dom Pedro Segundo.