Que a evolução nas comunicações não acabe com o jornalismo gente, como podemos chamar o que fazem Michelly Correa e Daiane Fardin no começo das tardes de sábado na tevê.

Seus programas Plug e Estudio C são coladinhos como gêmeos de um jeito híbrido de jornalismo e variedades no melhor sentido. Nos trazem sempre várias pessoas em vários lugares e atividades, falando com gosto do que gostam de fazer, da vida que levam, das coisas que cultivam ou preservam.

Vários talentos se mostram, os historiadores de cada localidade, músicos, artesãos, trabalhadores de todo eito e jeito, além de recantos a pedir conheçam-me, gente discreta que de repente se abre feito flor, tagarelas a falar pelos cotovelos e recatados a dizer preciosidades, entre trilhas de floresta ou estradinhas rurais, praias e campinas, ravinas e serras, no aconchego das casas ou no rumor de corredeiras, conversando com gente a exibir seus tesouros de memória ou suas receitas de cozinha.

Claro que para tudo isso é preciso gostar de gente, tratar gentilmente e se interessar realmente pelo que gente faz ou é, com curiosidade genuína e interesse humano, que é o que Daiane e Michelly fazem como quem nasceu pra isso. Sem quaisquer cacoetes de estrelismo ou sinais de ansiedade por audiência, sem qualquer apelação sensacionalista, apenas o visível gosto de gostar do que fazem e fazer simplesmente bem feito.

Fazer simplesmente, entretanto, não significa fazer com precariedade ou desleixo, os dois programas contam com filmagem e edição competentes e criativas, uma equipe que comunga junto. Mas o principal ingrediente da receita é o envolvimento das duas apresentadoras com o lugar ou assunto e as pessoas envolvidas. Pode ser uma cidadezinha ou uma oficina, uma cascata ou uma mata, uma plantação em flor ou uma coleção de lembranças, serão mostradas como respeitáveis e interessantes peças dessa imensidade que chamamos civilização.

No fundo, o assunto é sempre cultura, nas suas formas básicas de trabalhos e folguedos, cotidiano e festejos, crenças e costumes, memória e patrimônio.

As receitas culinárias, que podem ser captadas nos sites dos programas, formam um crescente e inestimável cardápio paranaense de muitas etnias, pronto para servir a gente e ao turismo.

O tom é de conversa com o telespectador, focando o comum mas não de forma banal, o pitoresco sem ser vulgar, o insólito em sua singeleza, o simplório em sua autenticidade, o humano em tudo. A postura das duas sempre é de quem, meio brincando, chega para compartilhar o mundinho das pessoas com o mundão das comunicações, sem porém achar um maior ou menor que o outro.

Esse jornalismo gente, se tivesse de ter patrono, seria o repórter conversador José Hamilton Ribeiro, com suas décadas no Globo Rural.

Nesta tecno-era, ainda tão nova e já com tantas transformações em tudo, temos assim na velha tevê duas fontes de fé no mais antigo e interessante espetáculo, o próprio ser humano humanamente apresentado por gente que gosta de gente e compartilha com a gente.

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