Minoria mesmo é a dos anões. Nem se sabe quantos são no Brasil, pois o censo não os leva em conta, embora desde 2004 o nanismo esteja incluído na lei de proteção a deficientes. É anão quem tem menos de metro e 40, e calcula-se que devem ser 20 mil, ou um para cada 10 mil brasileiros, e podem nascer em toda família.

Sou otimista até por conveniência, já que é mais gostoso que ser pessimista, e creio que a democracia no mundo, fora um ou outro fanatismo eventualmente no poder, é irreversível. Recentemente crescentes vitórias da direita, em vários países, pareciam permitir autocracias e restrições às liberdades, mas já as últimas eleições mostraram que os vitoriosos de ontem perdem o poder se, além de encantar as pessoas, não as ajudarem a realmente melhorar suas vidas.

Peter Dinklage
Peter Dinklage | Foto: Divulgação

Creio também que a democracia acabará superando o confronto esquerda-direita, evoluindo com partidos progressistas e conservadores, e com também irreversíveis processos de transparência, diversidade e inclusão, com seus avanços e eventuais delírios. E os anões também avançam, até com suas celebridades, como a youtuber Maria Clara e o ator Peter Dinklage, além do gigante da voz, Nelson Ned.

Os anões também ficaram indevidamente famosos quando do escândalo dos “Anões do Orçamento”, deputados que desviavam verbas e foram assim apelidadas pela sua pequenez ética. Preferível lembrar que há em Sergipe a “Cidade dos Anões”, como é chamada Itabaianinha, com centena deles, 25 vezes mais anões que no Brasil. São tantos que conseguem formar dois times de futebol suíço, e o Brasil tem até uma seleção brasileira de futebol de anões.

Meu apreço por anões vem desde que, quando tinha uns doze anos, na Pensão Alto Paraná, em redor do fogo do tacho de sabão, um anão sentou sobre apenas dois tijolos e fiquei de olho. Nunca tinha visto homem barbado mas mais baixo que eu que ainda estava crescendo! Logo alguém perguntou o que ele fazia, falou que fazia de tudo: ajudava mecânico e borracheiro, encanador e até eletricista, e batia enxada e martelo, só não era saqueiro porque não existia saca de trinta quilos.

A roda riu, depois ele contou histórias e piadas, ouviu as dos outros com atenção e fez boas perguntas, e no olhar dos peões, mascates e camelôs que ali também palitavam os dentes depois da janta, via-se que o homenzinho crescia. Alguém perguntou se seus pais eram baixinhos também, ele falou que não, que todo casal normal podia ter filho assim, então nascer pequeno era normal como chover, só que de vez em quando chove granizo... Depois disse que ia dormir, ia ser um dia grande pra alguém pequeno... (e hoje “pessoa pequena” é o tratamento politicorreto para anão).

Falei do anão a meu pai e ele disse que era um baita trabalhador - eu tinha apertado sua mão cheia de calos? No outro dia, para apertar sua mão fui logo procurar o anão, e no refeitório ele estava sentado sobre almofada dobrada numa cadeira, sempre falando com um ou outro, e tive vergonha de me achegar. E podia ter sido o primeiro grande homem de quem apertaria a mão.